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Reduto italiano, Mooca prepara festança para saudar o Mundial

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Entusiastas do bairro orgulham-se de dizer que a Mooca é quase uma "nação", que preserva seu linguajar típico, o mooquense, regido por uma orquestra de gestos. Majoritariamente italiana, a terra do clube Juventus também é uma "pátria" de croatas.

Basta correr os olhos com atenção pela pequenina fachada do número 454 da rua Tobias Barreto para visualizar o brasão branco e vermelho que simboliza o país.

"Somos um povo alegre como os brasileiros. Gostamos de dançar e de conversar", avisa uma das anfitriãs da Sociedade Amigos da Dalmácia-Croácia, Fanny Gavranich, 75.

No piso térreo, há um acervo croata (livros, filmes e 200 discos de vinil), mesas de sinuca e um bar, onde se toma caipirinha e, com sorte, a tradicional cerveja croata Karlovačko, que tem um exótico aroma de lúpulo floral.

No andar superior, num salão ornamentado com a bandeira do país, será montado um telão para a exibição dos jogos. Lá, croatas, descendentes e outros paulistanos assistirão à abertura da Copa, nesta quinta-feira (12).

Otimista está o turismólogo Fábio Gavranich, 38. "Vai ser 1 a 0 para nós", empolga-se. Nós? Quem? "Para a Croácia, é claro." O gol, arrisca, será do brasileiro Eduardo, naturalizado croata, ou do craque local Luka Modric.

Gavranich veste uma camiseta com a imagem de Davor Suker, hoje presidente da Federação Croata de Futebol –o ex-jogador notabilizou-se na campanha da Croácia no Mundial de 1998, quando se tornou o artilheiro da Copa.

Abaixo da imagem de Suker, a palavra "Torcida", que, segundo Gavranich, é o nome da principal organizada do time Hajduk Split. A camiseta, que será o uniforme dos torcedores croatas durante o Mundial, não entusiasma uma de suas matriarcas.

"O time do Felipão vai ganhar de nós por 3 a 1", opina Fanny, para o desespero de familiares. Olha para o alto e emenda: "Molin tata" –"Me perdoa, papai", em croata.

Se no campo Fanny é brasileira, na cozinha não abre mão da gastronomia balcânica. De suas mãos é que sairá o cardápio croata do evento.

'ITALIANIZADOS'

Nos anos 1924 e 25, o Brasil recebeu uma numerosa leva de imigrantes croatas, com cerca de 3.000 moradores oriundos das aldeias de Blato e Vela Luka, situadas na ilha de Korčula, que, à época, pertencia ao Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos.

"Esses imigrantes foram trabalhar nas fazendas de café do interior do Estado de São Paulo em substituição à mão de obra escrava", explica a produtora cultural Katia Camargo, 47, neta de croatas, que vai lançar um livro sobre a história, a cultura e a gastronomia da Dalmácia, região que abrange territórios da Croácia, da Bósnia-Herzegóvina e de Montenegro, na costa leste do mar Adriático.

Segundo Katia, os croatas não se adaptaram às condições precárias das fazendas, o que impulsionou esses imigrantes a vir para a capital. Foram morar no Belém e na Mooca, bairros que, naquele período, viviam uma próspera expansão industrial.

"Essas regiões eram redutos de italianos, patrões e funcionários. Como muitos croatas falavam italiano, eles foram 'italianizados'. Por isso, muita gente desconhece a presença deles por ali."

Em 1959, os imigrantes criaram a Sociedade Amigos da Iugoslávia, que já chegou a ter 500 famílias associadas.

De 1970 a 1977, durante o regime militar, a casa ficou fechada por "perturbar a ordem". Com a independência da Croácia, em 1991, passou a abrigar a Sociedade Amigos da Dalmácia-Croácia. Hoje, são cerca de cem sócios –572 croatas vivem no Brasil, 163 deles em São Paulo, segundo dados de 2010 do IBGE.

Vinda de um país que teve suas fronteiras submetidas a tantas modificações ao longo da história, Frana Brcić, 93, pouco se importa com a mudança de nome da entidade.

"Cheguei ao Brasil com três anos de idade como iugoslava. Não é agora que vou mudar de nacionalidade", diz. "Vou morrer iugoslava, i ako Bog da, u Belenzinho." Em bom português: "E, se Deus quiser, no Belenzinho". Ali, bem pertinho da Mooca.

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