Opinião: Na festa de abertura da Copa, prevalece sensação de obra inacabada
De tanto ouvir os gritos do "não vai ter Copa", talvez os bailarinos escalados para a cerimônia de abertura, vestidos de samambaia, bromélias e até cabaças, também não acreditassem que o torneio estivesse começando.
Fizeram corpo mole num desfile mal ajambrado de estereótipos nacionais -da riqueza da flora ao artesanato.
Sobre um pano bege tão mal costurado quanto as coreografias, bailarinos zanzavam descoordenados e fora de ritmo, mais em clima de ensaio que de produto final.
Dos berimbaus e reco-recos gigantes espalhados pelo campo às fantasias que não passariam pelo crivo de qualquer escola de samba, tudo teve ares de 25 de Março, a famosa rua de comércio popular do centro paulistano.
Em campo, as faixas coloridas que levavam os olhos à arena central, onde uma bola se abria para revelar as cantoras Claudia Leitte e Jennifer Lopes e o rapper Pitbull, ecoavam os tons berrantes das telas de Beatriz Milhazes.
Mas a arte contemporânea passou longe da cerimônia. Numa apresentação insossa, que privilegiou indícios da cultura nacional em vez da própria cultura, prevaleceu a sensação de obra inacabada, como o tal legado da Copa.
Esse Brasil padrão Fifa teve até índios no gramado vestindo roupas cor de pele, em vez de ter o corpo à mostra. No lugar da exuberância, ficou a imagem pasteurizada de uma terra do recalque, um país inteiro com o freio de mão sempre puxado.
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