Um provérbio futebolístico alemão afirma: "Toda teoria é cinza —decisivo é o que acontece em campo!". Essa frase foi dita pela primeira vez pelo antigo jogador e técnico Alfred Preissler, e, desde então, repetida à exaustão por treinadores.

O curioso é que a frase não faz muito sentido. Pelo menos não no que diz respeito à seleção alemã. Porque, no período que antecede uma Copa do Mundo, não se fala sobre o que acontece em campo, e sim sobre tudo o que cerca a seleção.

Por mais de meio ano, por exemplo, o quartel-general do time em Santo André, na Bahia, foi um grande assunto na Alemanha. Vai ficar pronto? Ele foi mesmo construído especialmente para os alemães? É seguro? Isso é mesmo uma boa ideia? A poucas horas da estreia do país na Copa, contra Portugal, as respostas são as seguintes: Sim! Não! Sim! E sim!

Os alemães estão na Bahia há uma semana —e seu quartel deve se tornar uma espécie de curinga durante a Copa. "Já na chegada com a balsa eu pude ver nos rostos dos jogadores essa atmosfera especial do local. Aqui a gente sente o ritmo do Brasil, o mesmo que queremos levar para os gramados", disse o coordenador da seleção Oliver Bierhoff, que tem pressa para fazer do Campo Bahia um campo das boas esperanças.

Após todos os contratempos dos preparativos, o quartel-general que durante meses foi alvo de controvérsia na imprensa —e que é protegido como um encontro de cúpula do G8— deve se tornar o grande trunfo de Joachim Löw na Copa. Mesas de pingue-pongue, tabuleiros de dardos e mesas de sinuca dão um clima de albergue da juventude à hospedagem de luxo —o Playstation também está à disposição de Mesut Özil e seus colegas.

Mas, no fim das contas, o que está em primeiro plano no Campo Bahia naturalmente é o futebol. O treinador teve apenas uma semana para tentar fazer com que a teoria animadora de Bierhoff se imponha na prática na estreia contra Portugal.

O que diria Alfred Preissler agora? Exatamente: decisivo é o que acontece em campo!

Por isso, nestas últimas horas antes do jogo, a Alemanha debate muito menos o quartel-general do time do que sua provável escalação inicial. A única coisa que está clara é que faz tempo que nem tudo está claro. Pelo menos uma posição ainda parece estar em aberto.

Nem em sua mais recente coletiva de imprensa, na quinta-feira, o treinador quis revelar se vai colocar Lukas Podolski ou André Schürrle no lado esquerdo do ataque. É um problema de luxo com o qual Löw precisa se ocupar porque, pouco antes do embarque para o Brasil, Marco Reus se machucou com gravidade. Por conta de uma lesão no tornozelo, o Cristiano Ronaldo da Alemanha vai ficar pelo menos três meses afastado.

Todas as outras posições parecem definidas para a estreia em Salvador. No gol vai ficar Manuel Neuer, que passou muito tempo lesionado nesta temporada. Na zaga, Löw vai contar com quatro nomes: Jerome Boateng defende a direita dos avanços de Cristiano Ronaldo, Benedikt Höwedes joga na esquerda contra Nani, e, no centro, Mats Hummels e Per Mertesacker completam a muralha alemã.

Löw ainda terá um meio-de-campo compacto, com Philipp Lahm, o recém-recuperado Sami Khedira e Toni Kroos. No ataque, vai abrir mão de um camisa nove clássico e apostar no revezamento de Mesut Özil, Thomas Müller e Podolski (Schürrle).

Mas na segunda (16/6), a partir das 13h, o provérbio volta a valer: toda teoria é cinza —decisivo é o que acontece em campo.

Tradução de DENISE MENCHEN

	Editoria de Arte/Folhapress