O procurador do Trabalho Valdir Pereira da Silva ajuizou nesta quarta-feira (18) uma ação civil pública na 1ª Vara de Trabalho de Brasília para que a Justiça obrigue a Fifa a cumprir imediatamente uma série de recomendações para preservar a saúde dos atletas durante a realização da Copa do Mundo.

A ação foi apresentada após a informação da entidade de que não cumpriria as determinações feitas pelo Ministério Público do Trabalho. Em maio, o órgão notificou a federação para que cumprisse uma série de recomendações, principalmente, a de beber água durante os jogos com temperatura elevada e até a possível realização de intervalos extras nas partidas.

A preocupação do Ministério Público do Trabalho (MPT) é com os riscos à saúde dos atletas em "razão das condições ambientais adversas, notadamente climáticas", em que serão realizados os jogos.

No entanto, em 9 de junho, a Fifa enviou uma petição afirmando que não iria cumprir as determinações porque já responde a uma ação de responsabilidade da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).

"Fiquei surpreso pela mudança de posição da Fifa rapidamente. Eles foram receptivos às recomendações e, de repente, dizem que vão tomar medidas diferente do que tínhamos recomendado. O MPT só lamenta pelo fato de ter que brigar por coisa tão óbvia. Lamentável que uma instituição como a Fifa brigue para não hidratar seus atletas", afirmou Silva.

De acordo com o procurador, a preocupação é com as altas temperaturas que podem prejudicar os atletas. Na notificação feita em maio, o ministério determinou à federação estabelecer e promover pausas técnicas adicionais durante os jogos para hidratação e resfriamento do corpo dos atletas quando a temperatura ambiente ultrapassar os 30ºC. Os árbitros seriam os responsáveis por decidir se param o jogo e se assim o fizerem, o ministério recomenda que a intervalo dure, pelo menos, meia hora.

No entanto, a Fifa informou em junho que só pausaria um jogo se a temperatura passasse dos 32 graus mas a própria notificação afirmava que nestes casos, as partidas teriam de ser suspensas e até mesmo remarcadas.

"Não faz sentido essa mudança de postura porque a própria Fifa nos informou que 32 graus representam situação de risco. A variação de temperatura pode significar a diferença entre uma febre e uma convulsão", afirmou Silva.

O juiz Rogério Neiva Pinheiro, da 1ª Vara do Trabalho de Brasília marcou uma audiência de conciliação entre a Fifa e o MPT na próxima sexta-feira (20). Se não houver acordo, o juiz pode deferir a liminar impetrada pelo ministério público. Se isso acontecer, a Fifa pode ser multada em R$ 200 mil a cada jogo em que não cumprir as recomendações.

A Folha entrou em contato com a Fifa mas até esta publicação não obteve resposta.

ALUCINAÇÕES

No jogo da Itália contra a Inglaterra, realizado em Manaus no último sábado (14), alguns jogadores reclamaram do grande calor. Apesar da vitória por 2 a 1, os italianos relataram problemas de saúde após o jogo. O meia Marchisio chegou a dizer que em alguns momentos era como se estivesse tendo alucinações por causa das altas temperaturas na cidade. A temperatura durante o jogo variou entre 27 e 31 graus.

O zagueiro italiano Giorgio Chiellini chegou a pedir limites de tempo e pausas para hidratação durante a partida para preservar a saúde dos jogadores. O técnico da seleção da Itália, Cesare Prandelli, classificou como absurda a falta de paradas técnicas durante a partida e disse que a questão da hidratação é assunto sério.

Ele chegou a pedir que a Fifa determine duas paradas técnicas durante os jogos. Para Prandelli, caso isso não seja feito, os jogadores irão aproveitar os escanteios e faltas para beber água.

	Felipe Trueba/Efe
	O meia espanhol Iniesta se refresca durante jogo em Fortaleza