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O espanhol: "Curitiba, princípio, final e futuro"

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A Espanha se despede daquela que foi a pior Copa do Mundo de sua história na mesma cidade, Curitiba, em que 64 anos atrás ela começou sua melhor participação anterior ao título mundial de 2010.

Nesta segunda (23), na Arena da Baixada, ela fecha em plena depressão um Mundial no qual sonhava repetir seu título ou ao menos poder defendê-lo até o final, e do qual sai com o maior fracasso em suas 14 participações na competição.

Em 25 de junho de 1950, contra os Estados Unidos no estádio Durival Britto e Silva, a Espanha venceu por 3 a 1 uma partida que estava perdendo até os 36 minutos do segundo tempo. Passados 23.374 dias, a Espanha viverá uma partida muito diferente, um drama, um fim de ciclo que abre e multiplica as incógnitas, como acontece depois de uma queda que não constava dos planos de ninguém.

A hecatombe sofrida no Brasil tem dimensões desconhecidas. Antes de enfrentar a seleção australiana, a contagem de gols sofridos é de sete; só na Copa de 1950, no Brasil, a seleção espanhola havia sofrido mais gols: 11, mas em seis partidas. Em suas demais participações, porém, jamais sofreu mais de cinco gols. Os sete sofridos diante de Chile e Holanda são o mesmo total que Casillas acumulou nas fases de grupos das três copas anteriores —2002 (quatro), 2006 (um) e 2010 (dois).

Além disso, para evitar completar esse desastre em terras brasileiras, a Espanha precisa marcar um gol diante da Austrália ou esta será a primeira Copa na qual ela anota apenas um tento. No Chile, em 1962, e na Argentina, em 1978, ela também voltou para casa depois de três partidas, mas sofrendo menos gols.

Esse panorama desolador que se apresenta diante do futebol espanhol traz muitas perguntas, mas uma acima de todas: regeneração por revolução ou por uma evolução de tudo de bom que foi criado até agora?

O cenário da evolução é o seguinte: assimilado o nocaute técnico, é preciso enfrentar o futuro. A mensagem de Ángel María Villar, o presidente da federação espanhola, aos seus subordinados, depois de consumada a hecatombe, é aquela que expliquei neste mesmo espaço na semana passada. O treinador ideal é Vicente del Bosque. O contrato prorrogado em novembro passado com o treinador se estende até a Eurocopa de 2016, à qual ele chegará com 65 anos, e isso desde sempre independentemente do que acontecesse no Brasil.

A federação quer que del Bosque comande a mudança, que ele seja o técnico que vá mudando a cara da seleção e introduzindo uma geração que ele conhece perfeitamente e na qual Las Rozas (a Granja Comary espanhola) deposita muita confiança. Nenhum dos dirigentes da seleção espanhola ignora que o treinador quer conduzir essa mudança de geração, trazendo jogadores com os quais manteve contato e para os quais, em muitos casos, foi ele que abriu as portas da seleção.

Essa é a aposta em uma evolução do trabalho realizado nos seis últimos anos. Agora, com a eliminação tão fresca na memória, parece que se deve derrubar tudo e que nada tem valor, mas na federação se compreende que o fracasso no Brasil, tratado com panos quentes, não justifica que a conta seja zerada e tudo recomece do zero, e que os esforços devem se concentrar em del Bosque se mantendo no posto e comandando as mudanças, para voltar a aproximar os torcedores da seleção.

Sob essa evolução, em lugar de revolução, há jogadores cuja aparição estará iminente a partir de setembro. Isso não significa que a seleção passará a ignorar muitos daqueles que jogaram no Brasil —pelo contrário.

Com de Gea e Koke já como titulares, Carvajal, Thiago, Bartra (se puder jogar) e Isco seriam os primeiros a subir. Nacho, do Real Madrid, se conseguir lugar em seu time, também pode ser aproveitado na lista de del Bosque. Outras possibilidades são Ander Herrera e Iturraspe, dois meio-campistas que del Bosque tem em alta estima. Em outros três casos, o treinador esperará para decidir: que Jesé se recupere de sua grave lesão, que Morata ganhe mais tempo de jogo para provar que pode ser o centroavante da Espanha, e que Deulofeu se torne importante na equipe do Barcelona.

É esse o caminho que a federação deseja percorrer para preparar a renovação. O apoio para que del Bosque continue, e para que tome as decisões que considera serem as melhores para a renovação, será completo.

Já o caminho da revolução seria o seguinte: os dirigentes da federação espanhola evitam a palavra "revolução". Para eles, nada importa mais que o contrato assinado por Vicente del Bosque até junho de 2016. Ainda assim, o treinador deixou bem claro desde o primeiro momento que esse compromisso não estaria acima das circunstâncias, e que se entendesse que sua presença prejudicaria o ambiente na seleção, optaria por se demitir.

A federação espanhola sabe que o cargo de del Bosque está à sua disposição, e que não é ela que pode ter dúvidas. Ainda assim, se o treinador tomar a decisão firme de não continuar e não for possível convencê-lo a mudar de ideia, algo que no momento não está sendo contemplado, haverá que enfrentar essa mudança traumática.

Hoje em dia, não existem nomes sendo discutidos, porque a federação acredita em del Bosque, e que não haja outro treinador com o perfil dele, a "nau-capitânia de nosso projeto". Ainda assim, no passado, quando se acreditava que del Bosque optaria por encerrar seu período no comando da seleção depois da Copa do Mundo, os dirigentes consideraram algumas possibilidades.

O primeiro ponto é claro: enquanto Villar continuar na presidência da federação, o treinador sempre será espanhol. Há três técnicos cujos nomes foram considerados: Joaquín Caparrós (treinador do Granada), Ernesto Valverde (Athletic Bilbao) e Paco Jémez (Rayo Vallecano). Outra possibilidade seria uma segunda passagem de José Antonio Camacho, que treinou a Espanha de 1998 a 2002.

Há outro elemento que pode passar por uma mudança profunda: a seleção poderia voltar a ter um diretor esportivo, posto vago desde que Fernando Hierro o deixou em 30 de junho de 2011. Del Bosque, que continuará ligado à federação quer permaneça como treinador, quer não, não deseja o posto, porque considera que sua sombra pesaria demais sobre o novo técnico, mesmo que este fosse um bom amigo seu, como Camacho.

A figura de Hierro foi fundamental para del Bosque e sua comissão técnica, sobretudo na relação com os clubes e seus treinadores. O retorno dessa figura seria entendido também como uma limitação à exposição excessiva do treinador e do time.

Já desprovida do rótulo de atual campeã do mundo, na federação a ideia é de que seja necessário reduzir os compromissos comerciais e os amistosos longe da Europa, algo que a nova abordagem da Uefa já garante. A Espanha percorreu meio mundo e faturou muito dinheiro com amistosos, graças ao seu título mundial. Agora é hora de a bola voltar a ser a grande protagonista, acima dos dólares.

Em Curitiba, 64 anos atrás, começou um Mundial histórico para a Espanha, no qual ela conquistou o quarto lugar. Hoje, em Curitiba, acaba uma Copa do Mundo horrorosa para La Roja, mas também começa um futuro cujo caminho ela precisa decidir.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Editoria de Arte/Folhapress
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