O japonês: "Só a vitória evita a eliminação"
Vencer ou voltar para casa —é a isso que se reduziu a campanha do Japão na Copa do Mundo, em sua partida final pelo grupo C contra a Colômbia, terça-feira (24/6), em Cuiabá, depois de dois desempenhos e resultados decepcionantes contra a Costa do Marfim e a Grécia.
Alberto Zaccheroni, que está sob ataque no Japão por seu desempenho no comando da seleção, especialmente no empate de zero a zero com a Grécia, cancelou abruptamente o treino do sábado, um dia depois de ser convocado a uma reunião de emergência com Hiromi Hara, diretor técnico da federação japonesa de futebol. Hara convocou a reunião porque sentiu que Zaccheroni estava abandonando a abordagem que ajudou a fazer do Japão um dos times mais intrigantes antes desta Copa do Mundo.
Nos seus quatro anos no comando da equipe, o antigo treinador do Milan e da Juventus quase nunca recorreu aos lançamentos longos. Mas talvez pela pressão de estar enfrentando sua primeira Copa do Mundo, o Japão subitamente, nas duas partidas que disputou no Brasil, começou a recorrer a lançamentos, cruzamentos, jogadas de desespero —ainda que Zaccheroni mesmo tenha dito que fez sua convocação para privilegiar a posse de bola, e não o jogo aéreo.
A forma física da seleção japonesa também vem sendo preocupante, a despeito do longo trabalho de condicionamento nas semanas anteriores à Copa, no Japão e nos Estados Unidos. A equipe de Zaccheroni sempre se orgulhou de sua capacidade de correr mais que os adversários, mas não parece bem na Copa. O Japão decidiu se concentrar em Itu, uma área consideravelmente mais fria que a Flórida, mas jogou suas partidas no calor e na umidade de Recife e de Natal.
É preciso considerar a hipótese de que o programa de condicionamento físico tenha sido deficiente, e que isso esteja custando caro ao time agora.
Hara disse que "no fim, a decisão cabe ao treinador, mas jogar com lançamentos longos e bolas aéreas não funciona para este time. Devemos procurar planos alternativos. Não precisamos mudar o que viemos fazendo o tempo todo. O mais importante é refinar nossa estratégia e colocar em campo o grupo certo de jogadores".
Será que Zaccheroni, mais do que seus jogadores, precisa de um dia de folga, para se libertar da crescente pressão? Talvez. A seleção passou a noite de sábado em uma churrascaria, onde os jogadores puderam se divertir e quem sabe escapar da tensão que os vêm pressionando.
"Acho que estamos todos nos sentindo pressionados a apresentar um bom desempenho no próximo jogo. Por isso, tentei nos libertar do estresse. Não há nada de errado com a equipe fisicamente", disse Zaccheroni em uma entrevista coletiva improvisada às pressas.
"Não estou satisfeito. Sei muito bem que não conseguimos jogar o que podemos nos dois primeiros jogos. Sabendo o que realizamos nos últimos quatro anos, e não estamos nem perto de realizar nosso potencial. O resultado do primeiro jogo teve seu peso", ele disse, sobre a derrota por dois a um contra a Costa do Marfim.
"Não conseguimos jogar nosso estilo de futebol porque não mantivemos o ritmo. A forma física não é o único motivo para não estarmos afiados. Mas não vou usar o clima como desculpa", disse o treinador.
Há alguns pontos positivos para a terça, porém. A Colômbia já se classificou e é muito possível que José Pékerman dê um descanso aos seus melhores jogadores, contra o Japão. E como os homens de Zaccheroni apresentaram desempenho ruim até agora, é difícil imaginar que possam jogar pior que nas primeiras partidas.
No Japão, o público está dizendo que os "samurais azuis" precisarão de um milagre para avançar às oitavas pela segunda Copa do Mundo consecutiva. Para o bem dele, esperemos que Zaccheroni, que conversou com todos os membros da seleção para garantir que estejam todos na mesma sintonia, não cometa "haraquiri" [ritual suicida de guerreiros japoneses].
"Estou convencido de que estamos todos na mesma sintonia. Trocas rápidas de bola são a essência do futebol japonês. Não vou mudar quatro anos de filosofia por causa de dois jogos. Somos uma seleção com muito talento. Tenho certeza de que ele prevalecerá", declarou o treinador.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Shintaro Kano é jornalista da agência japonesa de notícias Kyodo News. A Copa-2014 é a sua quarta
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