O sambódromo do Anhembi ainda está longe de se transformar no "tangódromo" que as autoridades brasileiras esperavam. Até o início da noite de segunda-feira (30), apenas 350 argentinos haviam chegado ao local, em 120 veículos. O local oferece 500 vagas para veículos.

Faltava gente, chuveiro, tomada 220 e ingressos. Mas sobrava animação entre os torcedores, embora a maioria não tenha ingressos para assistir ao jogo desta terça-feira (1º) contra a Suíça, pelas oitavas de final da Copa, no Itaquerão.

Manuel e Claudia Pedraza, que vendem choripán (pão com lingüiça) em uma banquinha em Córdoba, vieram em sua perua Peugeot. Um dorme no porta-malas, ou outro, no banco de trás.

Para cozinhar, trouxeram um fogareiro. Para festejar, tem mate e até engradados de cerveja argentina Brahma. "A cerveja brasileira é um asco", explicava Manuel.

"Porto Alegre era bem mais estruturado, o camping era pertinho do Fan Fest; aqui, tudo é longe e o estádio, nem se fala." No parque Farroupilha, havia 2500 argentinos em barracas, carros e motor-homes.

As duchas no Sambódromo não estavam funcionando, então os dois foram tomar banho em um posto de gasolina.

No decorrer da tarde, a SPTuris consertou os chuveiros. E, depois de muito protesto dos argentinos, liberou o local para churrasco.

O vendedor de veículos Carlos Soloaga comemorava: "Achei carne argentina aqui no Carrefour, aleluia! Vamos acender o fogo".

A maioria dos torcedores no "tangódromo" vai assistir ao jogo pelo telão do Fan Fest, no Vale do Anhangabaú.

Mas tinha gente que não estava nem aí para o jogo. Veio mesmo é para "pegar mulher". "Viemos só por causa das "chicas" brasileiras, o futebol é o de menos", dizia Fernando Chufi, 46, que viajou com seu grupo de "cumbia" e estava tocando no sambódromo. Sem chuveiro, os cinco amigos pagaram R$ 20 em um hotelzinho para tomar banho e tiraram foto do "evento".

No autódromo de Interlagos, outro local que está recebendo argentinos, a situação não era muito melhor. Há vestiários com chuveiros, mas ficam muito longe da área onde estão os veículos dos argentinos. Os carros da própria segurança do autódromo tem de levar os turistas até o local, aguardar o banho e voltar para o acampamento.

Até 140 veículos cabem no espaço destinado aos argentinos. Até o fim da tarde de ontem, apenas 12 carros estavam no local. Na opinião da assessoria da SPturis, os argentinos devem estar espalhados por São Paulo.

O item mais disputado no "tangódromo" é o Fernet, bebida amarga que os argentinos tomam misturada com coca-cola. "Pagamos o que for para quem ainda tiver", dizia Maximiliano Sapia, 28, que veio de Mar Del Plata com quatro amigos que estão dormindo em uma barraca. Eles não vão nem tentar comprar entrada, com medo dos ingressos "truchas" (falsos).

Maurizio Gutierrez trouxe 6 garrafas de Fernet para vender por R$ 50 cada (na Argentina não custam mais de R$ 10).

"Queria juntar dinheiro para comprar ingresso, mas não achei nenhuma entrada por menos de US$ 1000", disse.

Os argentinos estavam bem otimistas com o desempenho da seleção argentina. "Não vamos para Brasília, vamos deixar para ir até o Rio para ver a final", dizia Soloaga. "É claro que vamos ganhar, o Neymar limpa os sapatos do Messi".

Enquanto alguns turistas preparavam a grelha, os torcedores de motor-homes se juntaram para entoar o hino anti-seleção brasileira: "Ainda que os anos passem, nunca vamos esquecer que o Diego te deu uma surra", cantavam. "Vocês estão chorando desde a Itália, mas Messi vai ganhar a Copa para a gente e mostrar que Maradona é melhor que Pelé".

	Robson Ventura/Folhapress
	Argentinos no sambódromo do Anhembi em São Paulo