'Não há nada de novo', diz jornalista britânico sobre desvio de ingressos
Andrew Jennings mal atende o telefone e já avisa a reportagem. "Não há surpresa nenhuma. Não existe nada de novo nesse escândalo. Previ tudo em meu último livro."
Autointitulado como o "inimigo número um da Fifa", o jornalista escocês Andrew Jennings denunciou em "Um Jogo Cada vez Mais Sujo", lançado no Brasil às vésperas da Copa do Mundo, a existência de um esquema de desvio de entradas do torneio para o mercado paralelo.
"[O presidente da Fifa] Sepp Blatter encoraja essa sujeira porque seus funcionários corruptos vendem em dinheiro vivo e assim não precisam pagar os impostos. Cambistas me disseram que até 40% dos ingressos da Copa vão para o mercado negro", diz o britânico, à Folha.
A denúncia de Jennings ganhou uma repercussão maior depois da prisão na última terça-feira (1º) de 11 cambistas, apontados como integrantes de uma quadrilha internacional de venda ilegal de ingressos para a Copa.
Diana Brito/Folhapress | ||
Polícia Civil apresenta ingressos recolhidos no Rio de Janeiro |
Entre os presos, estava o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, um desses figurões do futebol, conhecidos por todos, de jogadores e empresários a membros do comitê executivo da Fifa.
Mas a investigação não parou por aí. Um dos presos denunciou a participação de uma pessoa de dentro da própria entidade. Segundo o promotor Marcos Kac, que acompanha as investigações, é um "graúdo", de nacionalidade suíça, que vai "abalar as estruturas" quando tiver seu nome divulgado ao público.
A participação de pessoas ligadas a Match Services, empresa que detém a exclusividade na venda de tíquetes da Copa, também é investigada.
"Blatter sabe de tudo. Ele sabe para onde todos os ingressos vão. Isso acontece em todas as Copas há 12 anos. Por que você acha que ele fez essa concessão [de comercialização de entradas] para os irmãos Byrom?", afirma.
Os irmãos Byrom, a que Jennings se refere, são os mexicanos Jayme e Enrique, sócios majoritários da Match. A Infront Sports & Media, cujo presidente é Philippe Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, possui 5% da empresa.
Segundo o jornalista, os irmãos Byron atuam no desvio de ingressos do Mundial para cambistas, com consentimento de Blatter, desde 2002.
O Mundial da Coreia do Sul e do Japão foi o primeiro da gestão do suíço na Fifa. E investigações da Polícia Civil do Rio apontam que a rede de comércio ilegal atingida pela operação "Jules Rimet" agia desde a Copa da Ásia.
Entre os 200 ingressos apreendidos pela polícia, existiam tíquetes que faziam parte das cotas repassadas à CBF e às federações argentina e espanhola (para serem distribuídas para comissão técnica, família de jogadores e dirigentes), além de entradas de parceiros comerciais da Fifa e de agências de turismo licenciadas pela Match.
"Aconteceu no Brasil e irá acontecer na Rússia [em 2018]. Vai acontecer enquanto Blatter continuar na presidência da Fifa. E ele vai continuar nos próximos anos porque é um grande presidente para todos esses dirigentes corruptos", conclui.
Editoria de arte/Folhapress | ||
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