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Análise: Americano amargo (e apegado)
LUCAS MENDES
da BBC, em Nova York
Em março Barack Obama estava 20 pontos atrás de Hillary Clinton nas previsões da decisiva primária da Pensilvânia. Uma vitória da senadora com grande margem e ela continua no páreo. Uma derrota ou vitória com margem mínima, bye bye Hillary.
Os números recentes apontavam na direção do adeus da dama, com a média das pesquisas abaixo de 8%. Mas ela deu sorte. O senador foi a San Francisco, capital do liberalismo americano, reforçar ainda mais seus cofres num recinto fechado com um grupo de ricos e sem a presença da imprensa.
Sua campanha não sabia que entre eles estava infiltrada uma repórter do blog da Arianna Hunffington --The Huffington Post--, uma milionária blogueira com uma das redações mais furonas da praça. Uma repórter do blog gravou o "pla" do senador num telefone celular.
Desde sexta o país não parou de ouvir a gravação que é pouco clara e tem ruídos, mas todas as palavras estão lá e perseguem Barack Obama.
Ele disse: "Você vai nestas pequenas cidades da Pensilvânia e em muitas outras do meio oeste onde os empregos sumiram há 25 anos e nunca foram substituídos... Ambas administrações, de Clinton e Bush, prometeram que estas comunidades iam se recuperar, e não aconteceu. Não é surpresa que as pessoas se tornaram amargas e se apegam a armas, religião, antipatia por gente diferente deles, como imigrantes, ou a sentimentos contra acordos comerciais para compensar suas frustrações".
Amargos e apegados? Qual dos dois adjetivos é o pior?
Numa frase ele conseguiu insultar quase toda a população americana das cidades pequenas, os menos afluentes, os que acreditam em religião, os que têm armas, e os que não querem acordos comerciais e não gostam de imigrantes nem de gente diferente deles.
Estes são os eleitores que, com exceção do Wisconsin, Barack Obama não conseguiu conquistar, mas estava fazendo progresso na Pensilvânia.
As pancadas vêm de todos os lados. Na interpretação dos críticos, em especial de Hillary Clinton e John McCain, Barack Obama é um elitista e acha que o americano mais pobre e não urbano é incapaz de distinguir as verdadeiras questões da campanha e se apega a religião e armas por ignorância e não por convicção.
Desde então ele não pára de se corrigir e se desculpar com as clássicas variações do "me expressei mal, fui infeliz na escolha de palavras". Não sou elitista nem condescendente, etc.
Hillary Clinton saiu ferida quando inventou que tinha corrido de balas de franco-atiradores na Bósnia em 1996. Agora a besteira dela foi temporariamente esquecida e o fogo está aberto em Barack Obama. Vai ferir.
O senador Barack Obama pode pensar que o americano pobre das pequenas cidades é ignorante sobre questões sócio-econômicas e que está amargo e apegado a Deus, às armas e a outros interesses imediatos e egoístas porque está desempregado ou pobre.
Barack Obama pode pensar assim, como pode até cochichar a frase no ouvido da mulher Michele às três da manhã mas, em público? Uma semana antes de uma eleição que podia garantir a indicação dele pelo partido? Patetice. Na próxima terça talvez fique tão amargo quanto a boa gente do interior americano.
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Só assim pra se justificar esse Nobel a Obama, ou podemos ver como um estímulo preventivo a que não use da força bélica que lhe está disponível contra novos "Afeganistões" do mundo.
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