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Análise: Obama acerta na mosca. E mata a esperança
LUCAS MENDES
da BBC, em Nova York
Se você bobear vai ser atropelado pela campanha Obama a cem por hora, em fuga da esquerda rumo ao centro, onde está e sempre esteve o eleitorado americano. Na realidade, um pouco à direita do centro.
John Kennedy era de esquerda? Jimmy Carter? Bill Clinton? Eles eram liberais em algumas questões sociais e tinham uma política externa menos agressiva, mas foram eleitos porque tinham o apelo inofensivo do centro.
Os candidatos liberais foram arrasados nas eleições. Humphrey, McGovern, Mondale, Dukakis não conseguiram se livrar do palavrão --liberal--, homens pró-impostos e frouxos na guerra. Al Gore, homem de centro, foi roubado. Outra história.
Depois das eleições primárias, correr para a maçaroca do centro faz parte da história americana, mas Barack Obama é uma decepção muito maior do que os outros candidatos porque ele parecia diferente, uma esperança --palavra de ordem na campanha-- entre políticos cínicos, oportunistas, corruptos num país em crise econômica, uma guerra incerta e uma imagem comprometida pela tortura.
Sem currículo, com eloqüência, carisma e dólares de pequenos e grandes contribuintes, ele derrotou a máquina política mais poderosa do país.
As pesquisas não mostram o número dos eleitores desiludidos, mas é fácil medir a decepção pelas colunas dos principais comentaristas políticos do país nos jornais e revistas.
Frank Rich, do "New York Times", é um dos mais influentes colunistas liberais do país, simpatizante de Obama. Esta semana, escreveu que quer o robô Wall-E para presidente.
Na BBC não podemos revelar nossos candidatos, mas acho que posso revelar que estou com o Frank Rich. Wall-E tem todas as virtudes que faltam nos políticos, e está entre os melhores filmes do ano.
Aparentemente para crianças, é uma crítica brilhante, implacável, às vezes sombria, mas sempre engraçada sobre a sociedade americana.
Bob Herbert, um liberal que não esconde suas simpatias, também do "Times", não esconde sua decepção com Obama: "O senador se arrasta para a direita quando é conveniente e faz ziguezague com um descaso que vai provocar mais do que desilusão".
Para os conservadores, Barack Obama abriu um flanco tão vulnerável que um outro colunista comparou a coluna de Bob Herbert com a de outro conservador, Rich Lowry, do "New York Post". No mesmo dia, ambos arrasam Obama, mas é impossível distinguir o liberal do conservador.
Marie Cocco, do "Washington Post", escreve sobre a desilusão e a fúria das mulheres porque Obama mudou de posição sobre o aborto na fase avançada da gravidez. Agora é contra, com o argumento que mulher deprimida não pode tomar este tipo de decisão.
Pat Buchanan, ex-assessor de Nixon, ex-candidato à Presidência e um dos mais influentes colunistas conservadores, desconfia de McCain, mas acha que Obama quer provar à nação que não é um militante negro nem um radical e presta atenção até nos interesses da direita.
Buchnan termina a coluna com a pergunta: "Afinal, quem é este cara?". Esta vai ser a linha do ataque republicano.
Thomas Sowell escreve sobre o fenômeno dos Obamacons. São conservadores de direita decepcionados com McCain e pró-Obama.
Para a ala direita, a maior traição de McCain foi a proposta de anistia para imigrantes ilegais. Ontem os dois candidatos discursaram na LULAC - League of United Latin American Citizens (Liga de Cidadãos Latino-Americanos Unidos) --uma das mais influentes organizações latinas dos Estados Unidos.
Com exceção de um ou dois parágrafos, eles podiam ter trocado os discursos. Ambos são a favor do muro: "O mais importante é proteger a fronteira".
Barack Obama mudou de opinião sobre a guerra no Iraque. A âncora de sua campanha era a retirada das tropas. Semana passada, ele disse que é preciso "refinar sua opinião sobre essa retirada".
Mudou de idéia também sobre financiamento público da campanha --era a favor e, agora, com os cofres cheios, mudou de idéia.
Ter armas em casa: agora é a favor.
Pena de morte: era a favor só para casos de homicídios. Agora concordou com os dois juízes mais conservadores da Suprema Corte num caso sobre estupro de criança.
Prometia bloquear a proposta de imunidade às companhias de telefone que espionaram cidadãos americanos a pedido do governo. Votou a favor.
Era contra a política de dar dinheiro do governo para igrejas. Agora é a favor.
A sorte dele é ter um adversário não menos mutante, neste momento sem rumo, abandonado pela ultradireita, desesperado em busca dos independentes e dos democratas de Reagan, mas McCain nunca levou seu eleitorado às alturas.
Em novembro um colunista poderá escrever: Obama mata a esperança e acerta na mosca. Ou vice-versa.
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Só assim pra se justificar esse Nobel a Obama, ou podemos ver como um estímulo preventivo a que não use da força bélica que lhe está disponível contra novos "Afeganistões" do mundo.
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