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09/07/2008 - 07h23

Análise: Obama acerta na mosca. E mata a esperança

LUCAS MENDES
da BBC, em Nova York

Se você bobear vai ser atropelado pela campanha Obama a cem por hora, em fuga da esquerda rumo ao centro, onde está e sempre esteve o eleitorado americano. Na realidade, um pouco à direita do centro.

John Kennedy era de esquerda? Jimmy Carter? Bill Clinton? Eles eram liberais em algumas questões sociais e tinham uma política externa menos agressiva, mas foram eleitos porque tinham o apelo inofensivo do centro.

Os candidatos liberais foram arrasados nas eleições. Humphrey, McGovern, Mondale, Dukakis não conseguiram se livrar do palavrão --liberal--, homens pró-impostos e frouxos na guerra. Al Gore, homem de centro, foi roubado. Outra história.

Depois das eleições primárias, correr para a maçaroca do centro faz parte da história americana, mas Barack Obama é uma decepção muito maior do que os outros candidatos porque ele parecia diferente, uma esperança --palavra de ordem na campanha-- entre políticos cínicos, oportunistas, corruptos num país em crise econômica, uma guerra incerta e uma imagem comprometida pela tortura.

Sem currículo, com eloqüência, carisma e dólares de pequenos e grandes contribuintes, ele derrotou a máquina política mais poderosa do país.

As pesquisas não mostram o número dos eleitores desiludidos, mas é fácil medir a decepção pelas colunas dos principais comentaristas políticos do país nos jornais e revistas.

Frank Rich, do "New York Times", é um dos mais influentes colunistas liberais do país, simpatizante de Obama. Esta semana, escreveu que quer o robô Wall-E para presidente.

Na BBC não podemos revelar nossos candidatos, mas acho que posso revelar que estou com o Frank Rich. Wall-E tem todas as virtudes que faltam nos políticos, e está entre os melhores filmes do ano.

Aparentemente para crianças, é uma crítica brilhante, implacável, às vezes sombria, mas sempre engraçada sobre a sociedade americana.

Bob Herbert, um liberal que não esconde suas simpatias, também do "Times", não esconde sua decepção com Obama: "O senador se arrasta para a direita quando é conveniente e faz ziguezague com um descaso que vai provocar mais do que desilusão".

Para os conservadores, Barack Obama abriu um flanco tão vulnerável que um outro colunista comparou a coluna de Bob Herbert com a de outro conservador, Rich Lowry, do "New York Post". No mesmo dia, ambos arrasam Obama, mas é impossível distinguir o liberal do conservador.

Marie Cocco, do "Washington Post", escreve sobre a desilusão e a fúria das mulheres porque Obama mudou de posição sobre o aborto na fase avançada da gravidez. Agora é contra, com o argumento que mulher deprimida não pode tomar este tipo de decisão.

Pat Buchanan, ex-assessor de Nixon, ex-candidato à Presidência e um dos mais influentes colunistas conservadores, desconfia de McCain, mas acha que Obama quer provar à nação que não é um militante negro nem um radical e presta atenção até nos interesses da direita.

Buchnan termina a coluna com a pergunta: "Afinal, quem é este cara?". Esta vai ser a linha do ataque republicano.

Thomas Sowell escreve sobre o fenômeno dos Obamacons. São conservadores de direita decepcionados com McCain e pró-Obama.

Para a ala direita, a maior traição de McCain foi a proposta de anistia para imigrantes ilegais. Ontem os dois candidatos discursaram na LULAC - League of United Latin American Citizens (Liga de Cidadãos Latino-Americanos Unidos) --uma das mais influentes organizações latinas dos Estados Unidos.

Com exceção de um ou dois parágrafos, eles podiam ter trocado os discursos. Ambos são a favor do muro: "O mais importante é proteger a fronteira".

Barack Obama mudou de opinião sobre a guerra no Iraque. A âncora de sua campanha era a retirada das tropas. Semana passada, ele disse que é preciso "refinar sua opinião sobre essa retirada".

Mudou de idéia também sobre financiamento público da campanha --era a favor e, agora, com os cofres cheios, mudou de idéia.

Ter armas em casa: agora é a favor.

Pena de morte: era a favor só para casos de homicídios. Agora concordou com os dois juízes mais conservadores da Suprema Corte num caso sobre estupro de criança.

Prometia bloquear a proposta de imunidade às companhias de telefone que espionaram cidadãos americanos a pedido do governo. Votou a favor.

Era contra a política de dar dinheiro do governo para igrejas. Agora é a favor.

A sorte dele é ter um adversário não menos mutante, neste momento sem rumo, abandonado pela ultradireita, desesperado em busca dos independentes e dos democratas de Reagan, mas McCain nunca levou seu eleitorado às alturas.

Em novembro um colunista poderá escrever: Obama mata a esperança e acerta na mosca. Ou vice-versa.

Comentários dos leitores
hugo chavez (262) 11/01/2010 22h49
hugo chavez (262) 11/01/2010 22h49
As "autoridades" de imigração dos eua encobriram maus-tratos a estrangeiros e falta de atendimento médico nos casos de detidos mortos na prisão nos últimos anos, denunciou o jornal "The New York Times". A informação é parte do conteúdo de documentos internos e confidenciais obtidos pela publicação e a ONG União Americana de Liberdades Civis. Ambos se acolheram a uma lei de transparência que obriga à divulgação deste tipo de informação pelo governo. Os documentos mencionam os casos de 107 estrangeiros que morreram nos centros de detenção para imigrantes desde outubro de 2003. "Certos funcionários, alguns deles ainda em postos-chave, usaram seu cargo para ocultar provas de maus-tratos, desviar a atenção da imprensa e preparar declarações públicas com desculpas, após ter obtido dados que apontavam os abusos". É mais uma da "democracia" estadounidense que vive apontando o dedo para os outros. Quanto tempo e quantas patifarias ainda faltam para que alguns reconheçam que "liberdade e democracia" são MITOS nos eua. Ali acontece todo o tipo de manipulação, tortura, conchavo, tráfico, suborno, violência, abuso, enfim, toda a sorte de patifarias. Os eua estão mergulhados no mais profundo colapso em TODOS os sentidos. Não dá mais para encobrir que eles não se diferenciam em nada de TODOS os regimes que criticam, mas, como tem o poder das armas e são totalmente influenciados pela doutrina nazi sionista racista e fascista, são os maiores e verdadeiros grandes TERRORISTAS do mundo. São os condutores das maiores mazelas nos 4 cantos e o povo estadounidense precisa recuperar o poder e realmente conseguir resgatar sua Nação. Para começar, é preciso ter presidentes de verdade e não fantoches de 2 partidos que têm os mesmos "senhores", o sionismo internacional. Vivemos um momento decisivo onde devemos apoiar a Resistência mundial e lutar para derrubar o eixo que venceu o outro eixo na 2ª guerra e construir um mundo livre voltado para o socialismo do século XXI. Não ao capitalismo e ao comunismo, duas faces da mesma moeda controladas pelos sionismo. sem opinião
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Luciano Edler Suzart (40) 09/10/2009 10h20
Luciano Edler Suzart (40) 09/10/2009 10h20
A situação é periclitante, se antigamente se concedia o Nobel da Paz a quem de algum modo, plantava a paz no mundo, hoje (dada a escassez de boa fé geral) se concede o prémio a quem não faz a guerra... Como diria o sábio Maluf: "Antes de entrar queria fazer o bem, depois que entei, o máximo que conseguí foi evitar o mal"
Só assim pra se justificar esse Nobel a Obama, ou podemos ver como um estímulo preventivo a que não use da força bélica que lhe está disponível contra novos "Afeganistões" do mundo.
1 opinião
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honório Tonial (2) 16/05/2009 21h47
honório Tonial (2) 16/05/2009 21h47
Considero ecelente vosso noticiario. Obrigado, aos 83 anos de mnha vida, 8 opiniões
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