"Gilberto,
você está fora da realidade", critica
leitor
Sou
seu leitor/ouvinte deste os tempos de correspondente
em Brasília e NY e tenho profundo respeito e
admiração por seu trabalho e idéias,
mas sua coluna "Para Maluf, a culpa é da
vítima" mostra o quão distante você
está da realidade vivida pelo professor na linha
de frente.
Não
sou professor, mas marido de uma dedicada professora
do ensino médio, com 16 anos de magistério
e que ama sua profissão mas que tem comido o-pão-que-o-diabo-amassou
por causa da progressão continuada.
"...
classes com poucos alunos, professores que utilizem
um currículo conectado à realidade, muita
experimentação nos laboratórios,
leitura em bibliotecas informatizadas..." é
exatamente o que a escola pública paulista não
é. Não se pode cobrar dos professores
acompanhamento e monitoração individualizada
sem que lhes dêem os meios para isto, na forma
de treinamento, recursos e remuneração.
A
progressão continuada não é instrumento
pedagógico e sim alimento de estatísticas
para os burocratas da educação justificarem
o dinheiro investido com aprovações maciças,
tão danosas quanto as reprovações
maciças.
A
progressão continuada da forma como está
sendo aplicada em SP, serve apenas para desestimular
o aluno que tem algum interesse em aprender e se desenvolver,
pois fazendo ou não esforço ele estará
aprovado assim como o malandro que está na escola
apenas para vender drogas. A ameaça da repetência,
ou pelo menos a exigência por resultados tira
um pouco da boa vida daquele que não quer estudar.
Além
disto a progressão continuada tirou do professor
um forte instrumento de disciplina. Foi exatamente este
nivelamento por baixo que levou o ensino publico de
SP ser avaliado como um dos piores do Brasil.
Desqualificar
o pleito dos professores por defenderem a mesma tese
de Maluf, no meu modo de ver é maniqueísmo.
Isto não quer dizer que estejam do mesmo lado,
nem tão pouco pelos mesmos motivos. (Confesso
desconhecer as razões de Maluf, mas conheço
bem as razões dos professores).
A
escola pública não pode ter o papel de
substituta das carências familiares pois o professor
não é assistente social. Acredito que
a educação e a formação
de cidadãos conscientes é o caminho para
diminuir a miséria do Brasil, mas a progressão
continuada não é a resposta para isto.
Não
sei qual a melhor forma de resolver esta questão,
não sou especialista nem estudioso da educação
como você. No entanto, acredito que os professores
estão dispostos a fazer o melhor, com dedicação
e dignidade, e assim resgatar alguns dos milhões
de marginalizados e desesperançados. É
nos que tem o desejo de melhorar e aprender que deve
ser dado o foco, até mesmo pelo pouco recurso
financeiro disponível.
Ronaldo
Perrella
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