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29/11/2001
-
11h20
especial para a Folha de S.Paulo
"Entre a população mais pobre do Zimbábue, a Aids nem sequer é nominada. É chamada simplesmente de iyoyo, ou "a coisa" -um mal-estar misterioso associado a definhamento, febre e infecções." O trecho, publicado na revista "Veja", exemplifica um curioso comportamento humano: evitar o proferimento de palavras que se referem a assuntos considerados tabus.
Tabu é o nome dado àquilo que é sagrado ou proibido -a tudo o que, tido como "impuro", é passível de reprovação ou de perseguição numa sociedade.
Morte, velhice, doença e práticas sexuais são tabus entre nós. A Aids, doença incurável transmitida por contato sexual, é duplamente alvo de tabu -possível motivo de "aidético" já ter perdido terreno para "soropositivo".
Manda a boa educação que se diga "idoso" ou "de idade" no lugar de "velho". Melhor dizer "deficiente físico" do que "aleijado". As parteiras que faziam abortos eram as "tecedeiras de anjos". A antiga figura da alcoviteira, sempre malvista, também se chamava "onze-letras". Por quê? Basta contar o número de letras da palavra "alcoviteira".
Essa forte relação das coisas com as palavras é estudada pela semântica. A troca de uma palavra "proibida" por uma de sentido atenuado é o eufemismo, recurso por meio do qual se camufla o inconfessável. É também o artifício de quem não prima pela boa-fé. Aliás, a negação de uma qualidade com o intuito de afirmar o seu oposto é o que chamamos lítotes. Ao dizer que fulano não é dos mais inteligentes, nega-se a qualidade para afirmar de maneira mais suave o defeito.
As baixas de civis no Afeganistão têm sido chamadas de "efeitos colaterais" da guerra. Na era neoliberal, as empresas sofrem processos de "racionalização" ou de "reengenharia" -termos que, em geral, visam ao fugaz disfarce da realidade de quem perderá o salário no fim do mês.
Garota de programa é prostituta, encargos financeiros são juros de cartão de crédito, medida socioeducativa é pena a menores.
O jornalista José Simão, da Folha, reserva lugar em sua coluna diária aos eufemismos cotidianos, sobretudo os do governo tucano -ao que tudo indica, especialista na matéria.
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Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha, apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura, e professora do Objetivo (Americana)
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Fovest - 29.nov.2001
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Vá ao Masp 'conhecer' a terra dos faraós
Resumão/potuguês - Palavras que encobrem a realidade
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOespecial para a Folha de S.Paulo
"Entre a população mais pobre do Zimbábue, a Aids nem sequer é nominada. É chamada simplesmente de iyoyo, ou "a coisa" -um mal-estar misterioso associado a definhamento, febre e infecções." O trecho, publicado na revista "Veja", exemplifica um curioso comportamento humano: evitar o proferimento de palavras que se referem a assuntos considerados tabus.
Tabu é o nome dado àquilo que é sagrado ou proibido -a tudo o que, tido como "impuro", é passível de reprovação ou de perseguição numa sociedade.
Morte, velhice, doença e práticas sexuais são tabus entre nós. A Aids, doença incurável transmitida por contato sexual, é duplamente alvo de tabu -possível motivo de "aidético" já ter perdido terreno para "soropositivo".
Manda a boa educação que se diga "idoso" ou "de idade" no lugar de "velho". Melhor dizer "deficiente físico" do que "aleijado". As parteiras que faziam abortos eram as "tecedeiras de anjos". A antiga figura da alcoviteira, sempre malvista, também se chamava "onze-letras". Por quê? Basta contar o número de letras da palavra "alcoviteira".
Essa forte relação das coisas com as palavras é estudada pela semântica. A troca de uma palavra "proibida" por uma de sentido atenuado é o eufemismo, recurso por meio do qual se camufla o inconfessável. É também o artifício de quem não prima pela boa-fé. Aliás, a negação de uma qualidade com o intuito de afirmar o seu oposto é o que chamamos lítotes. Ao dizer que fulano não é dos mais inteligentes, nega-se a qualidade para afirmar de maneira mais suave o defeito.
As baixas de civis no Afeganistão têm sido chamadas de "efeitos colaterais" da guerra. Na era neoliberal, as empresas sofrem processos de "racionalização" ou de "reengenharia" -termos que, em geral, visam ao fugaz disfarce da realidade de quem perderá o salário no fim do mês.
Garota de programa é prostituta, encargos financeiros são juros de cartão de crédito, medida socioeducativa é pena a menores.
O jornalista José Simão, da Folha, reserva lugar em sua coluna diária aos eufemismos cotidianos, sobretudo os do governo tucano -ao que tudo indica, especialista na matéria.
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Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha, apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura, e professora do Objetivo (Americana)
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