São Paulo    
O segredo do voto

Surge um sistema partidário

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

Em nenhuma das capitais ocorreu uma reviravolta desde que começou o horário eleitoral gratuito. Os candidatos que estavam na frente, em geral prefeitos candidatos à reeleição, continuam na dianteira. A propaganda na TV ajudou, até aqui, a definir os ocupantes do segundo lugar. Note-se, no entanto, que mesmo sem grande alterações, as pesquisas de intenção de voto estão a indicar uma depuração do quadro partidário no Brasil.

O PT está a confirmar a sua condição de grande partido de oposição. O que lhe garante tal título é o fato de ser o único partido de esquerda verdadeiramente nacional. O PSB disputa em Belo Horizonte e Maceió. O PPS tem chances em Fortaleza e também em Maceió. O PDT está com boa presença em São Luiz e em Porto Alegre. Já o PT, além de estar na frente em São Paulo e em Porto Alegre, comparece entre os maiores também no Rio de Janeiro, em Curitiba, em Salvador e em Recife.

Ainda que não venha a ganhar nas capitais em que ocupa a segunda colocação, o PT deverá sair da eleição fortalecido. Do lado da aliança de governo o mesmo deve ocorrer em relação ao PFL, como já disse em coluna anterior. O PFL está bem no Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e Recife. O PSDB adquire chances de sair do pleito como um partido “federal” uma vez que está com boa cotação em Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e São Luiz.

Uma eleição não é suficiente para fixar definitivamente os partidos nacionais. Por isso, convém evitar conclusões precipitadas. Mas o sistema partidário sugerido pelas eleições deste ano é o seguinte. O PFL tende a ocupar o espaço à direita do centro. Nesse caso, o PPB, o PTB, o PL e outras agremiações funcionariam sob a liderança do PFL. Ao centro, o PSDB consolida-se como alternativa ao PMDB. Sendo assim, cada vez mais, o PMDB deverá ficar subordinado ao PSDB. À esquerda, o PT reunirá ainda mais condições de liderar o bloco oposicionista.

Aos poucos, o sistema partidário brasileiro se depura. Para a democracia, trata-se de uma vantagem, pois o eleitor pode identificar melhor o quadro de alternativas e o seu significado ideológico. Desde que isso não impeça qualquer grupo de se apresentar na competição, como de fato não impede, a estabilização das siglas mostra um amadurecimento do processo político brasileiro.




André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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