São Paulo    
O segredo do voto

Por que caiu?

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

Em uma campanha pouco movimentada, na qual Marta Suplicy manteve sempre a liderança, as emoções acabaram por conta dos altos e baixos de Geraldo Alckmin. O tucano subiu no começo de setembro, apenas para voltar ao patamar anterior em pouco mais de 15 dias. A pergunta é por que subiu e por que caiu?

O coordenador da campanha do PSDB, deputado Walter Feldman, atribui a recente queda ao volume de ataques que Alckmin vem sofrendo no horário eleitoral gratuito. Pode ser. No entanto, cumpre observar que Alckmin em nenhum momento conseguiu aquela que sempre foi a grande barreira dos tucanos na capital: penetrar na periferia.

Observe-se que entre os eleitores de renda mais baixa (até 10 salários mínimos de renda familiar mensal) e entre os eleitores de menor escolaridade (primeiro grau), Alckmin oscilou o tempo todo de 11% a 9% das intenções de voto no período que vai de final de agosto a meados de setembro.

Ou seja, não subiu nem caiu. Ficou onde estava. Em torno dos 10%. A oscilação registrada, embora coerente com a tendência geral e, por isso, devendo ser interpretada como significativa, pode estar na margem de erro.

Agora veja-se o que ocorreu com o candidato do PSDB entre os eleitores de renda e escolaridade mais alta (respectivamente acima de 20 salários mínimos e ensino superior). No segmento mais escolarizado, em quinze dias Alckmin ganhou 11 pontos percentuais e, em seguida, perdeu 10 pontos percentuais. No segmento mais rico, ganhou oito pontos percentuais para, em seguida, perder 5 pontos.

É nítido, portanto, que a movimentação se deu entre os mais ricos e os mais escolarizados e não na faixa de renda e escolaridade mais baixa.

Há uma interseção óbvia entre as duas variáveis (quem tem mais rende tende a ter mais escolaridade), no entanto, nota-se que movimentação foi mais violenta entre os escolarizados (perdeu quase tudo que ganhou) do que entre os mais ricos.

Quando se olha para a movimentação nas pesquisas de Marta Suplicy, percebe-se parte do que ocorreu com Alckmin. A partir de agosto o eleitorado rico o “descobre” e, no final do mês, o adota, em boa parte migrando de Marta para ele. Na sequência, Marta recupera o segmento mais escolarizado desse segmento e Alckmin cai, ficando, no entanto, com parte do eleitorado mais rico.

Por isso, ele permanece como um candidato competitivo entre os ricos. Na faixa de eleitores que ganham mais de 20 salários, Alckmin continua, apesar da queda, em segundo lugar, livrando uma diferença de 7 pontos percentuais em relação a Maluf.

Portanto, se São Paulo inteiro fosse como são os jardins, Alckmin iria para o segundo turno com Marta (note-se que Maluf vem caindo no segmento mais rico). Ocorre que São Paulo não é assim. Aliás, a situação é o contrário. A massa de votos virá da periferia. E na faixa salarial mais baixa, o tucano está em quinto lugar.

Repete-se desse modo o fenômeno que caracteriza o comportamento do eleitorado paulistano. Os ricos caminham para o centro, mas na periferia há uma polarização entre direita e esquerda (leia-se PT X malufismo).

Contudo, a campanha ainda não terminou. Pode ser que venham novidades. Note-se que na última pesquisa, Marta e Tuma caem no segmento de menor renda, enquanto Maluf e Erundina sobem um pouquinho.

Caso o quadro atual se mantenha e Marta vá para o segundo turno com Maluf, a tendência será Marta ganhar, o que representará uma importantíssima vitória para o PT no plano nacional.




André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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