São Paulo    
O segredo do voto

A dança ideológica no Rio

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

O apoio do PPS (Partido Popular Socialista) a Cesar Maia no Rio de Janeiro mostra duas coisas. A primeira é o acerto geral da tese segundo a qual haverá uma tendência dos dois principais candidatos em cada cidade estarem em campos ideológicos diferentes.

Como o prefeito Luiz Paulo Conde, do PFL, ocupou o espaço que corresponde ao eleitorado conservador, restou a Maia disputar a chance de ir para o segundo turno no arraial da esquerda. Por isso, o apoio do PPS agora interessa a Maia.

Quando, no começo da campanha, ele estava em primeiro lugar ninguém falava em apoio da esquerda. Claro, ele sonhava em ser o candidato dos conservadores.

Outro aspecto interessante que o apoio do PPS a Maia revela é que esse partido está mesmo disposto a abrir uma frente alternativa ao PT no espectro que se posiciona à esquerda do centro. A estratégia do PPS é clara e lógica.

À medida que o PSDB foi para o centro abriu-se um vazio na centro-esquerda e eles lutam para ocupar essa posição. Para tanto, do ponto de vista tático - e não estratégico, o que é muito diferente - o principal inimigo do PPS é o PT.

Sim, porque, ao mesmo tempo que o PSDB foi para o centro, o PT abriu-se para a centro-esquerda. A aliança com Brizola em 98 foi um dos sintomas evidentes desse movimento. O deslocamento do PT corresponde à possibilidade de ocupar um espaço vago e sobretudo, viabilizar-se eleitoralmente.

A manobra do PT consistia em abocanhar a centro-esquerda sem abrir mão da esquerda (até porque as opções à esquerda do PT são muito minoritárias, embora o PSTU venha crescendo). É aí que entra a candidatura Ciro Gomes e sua junção com o PPS, antigo Partido Comunista do Brasil.

Embora PT e PPS fossem aliados naturais, depois que Ciro Gomes deu um gás à legenda, a comeptição pela centro-esquerda ficou acirrada, levando a episódios como o do apoio dos ex-comunistas ao candidato do PTB no Rio, em lugar de apoiar a candidata do PT, que também tem chances de chegar ao segundo turno.

Apesar de a campanha eleitoral deste ano ainda não ter empolgado, creio que os resultados destas eleições serão particularmente importantes para o futuro político brasileiro. Como disse em outra coluna, do pleito poderá sair um sistema partidário mais nítido.




André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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