São Paulo    
O segredo do voto

A batalha de São Paulo

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

Com a subida de Maluf, a reta final da campanha em São Paulo torna-se o centro das atenções nacionais. Não só porque a capital paulista é a maior cidade do país, com inegável peso político. É o nítido confronto entre esquerda e direita que torna a eleição paulistana ainda mais significativa.

O apoio do senador Jorge Bornhausen (PFL) a Maluf ajudou a nacionalizar a corrida pelo Palácio das Indústrias . No fundamental, ela continuará a girar em torno de temas locais. Mas as consequências serão federais.

Convém lembrar que o embate Marta e Maluf poderia não haver ocorrido. Não era fatal. Alckmin, do PSDB, deixou de ir ao segundo turno por uma diferençara insignificante, o que teria dado outra conotação ao pleito. A política democrática tem uma dose de acaso e surpresa. Não seria democrática se não fosse assim.

Por que Maluf subiu? O que ocorre com o eleitor? Ele é errático? Tenho ouvido dezenas de vezes essas perguntas nos últimos dias. Penso que Maluf subiu simplesmente porque realiza uma campanha dirigida e objetiva.

Há um grande eleitorado conservador no Brasil e na cidade. Conservadorismo de dois tipos. Um é o das camadas de renda alta. Importante porque forma opinião a longo prazo, mas irrisório em quantidade de votos. O outro é o conservadorismo popular. É com esse que Maluf conversa, porque são milhões.

Maluf fala claro, repete à exaustão as mesmas frases, insiste nos temas que falam de perto ao conservadorismo popular: segurança, baderna, obras. O resto é perfumaria.

Sabe que o conservadorismo popular está associado a baixa escolaridade. Por isso, bate nas teclas sensíveis dezenas, centenas de vezes. Para que a informação chegue onde ela tem mais dificuldade para ser apreendida.

A demora do PT em responder e mesmo o caráter dos seus revides refletem, a meu ver, o fato de que na campanha de Marta não estava profundamente incorporada a noção do tamanho e das características desse eleitorado conservador popular.

Não é que Maluf tenha readquirido credibilidade de uma hora para outra. Acontece que esse eleitorado tem um certo sistema de crenças, com o qual o ex-prefeito sabe se comunicar. Ele ativas um conjunto de idéias que está subjacente, e às vezes nem tão subjacente como o bordão de que não deve haver direitos humanos para bandidos. Quem já não escutou essa frase na boca de cidadãos comuns?

Cumpre dizer, contudo, que mesmo que o PT houvesse respondido antes e de forma mais direta, mais clara e contundente, não conseguiria impedir alguma migração de votos para Maluf. Trata-se de um realinhamento natural. O eleitorado conservador flui para o candidato conservador.

O problema são os reflexos que a campanha de Maluf pode ter sobre o eleitorado de centro. Numa eleição polarizada entre esquerda e direita, o centro é o fiel da balança. Ele decide.

Se a campanha de Maluf conseguir, o que é pouco provável, isolar o PT na esquerda, a candidatura petista correrá risco. Não é à toa que os políticos de centro, encabeçados por Mário Covas, vieram a público na terça-feira 24/10 dar respaldo a Marta Suplicy. Eles e ela sabem que o centro decidirá.

O problema é que, embora importante, o gesto de Covas, Serra, Alckmin, Requião e outros não garante tranferência automática de votos. Para que Marta confirme no domingo 29/10 a dianteira que teve até aqui, será necessário que o PT consiga dar respostas inteligentes, claras e objetivas à ofensiva malufista. De modo a que o centro social, e não político, sinta firmeza. Será um final eletrizante.






André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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