São Paulo    
O segredo do voto

Segundo turno fortalece PT e enfraquece PFL

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

A supreendente vitória do PT em Recife e a também inesperada derrota de Luiz Paulo Conde no Rio de Janeiro deram um saldo positivo ao partido comandado por Lula e negativo à agremiação de ACM. Embora tenha vencido em Curitiba, o que é um dado significativo porque consolida o pefelismo na região sul, a principal legenda da direita acabou o segundo turno com dois revezes importantes.

Já o PT passa a ter, com a conquista da capital pernambucana, uma base inédita no Nordeste. Embora já houvesse governado Fortaleza no passado e tenha obtido o primeiro lugar em Aracaju há um mês atrás, o peso político de Recife naquela região só é comparável à de Salvador, não por acaso o principal bastião do PFL.

Parece óbvio que, se realizar um bom governo em Recife, o PT deverá ameaçar ainda mais a hegemonia nordestina do PFL em 2004. No entanto, não foi apenas a vitória de Recife que marcou o crescimento do PT.

Ter vencido em São Paulo, Goiânia, Belém e Porto Alegre, além da já citada Aracaju, dá aos petistas prefeituras importantes nas regiões Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste, no Norte e no Nordeste.

Ou seja, o PT sai como um partido que possui raízes fortes em todo o território nacional. Sendo o Brasil um país continental, não se trata de um fenômeno menor. Haverá, evidentemente, enorme expectativa e fiscalização sobre os novos prefeitos. De sua atuação dependerá, em boa parte, o futuro imediato do PT.

Do ponto de vista geográfico, a derrota de Luiz Paulo Conde, embora não implique alteração ideológica importante, uma vez que Cesar Maia pertence a um partido de centro (PTB) que apóia o governo, priva o PFL de uma posição muito significativa no sudeste.

Em suma, os partidos que combatem o governo Fernando Henrique Cardoso _o PT em particular_ saem das urnas com maior musculatura, enquanto o principal partido da direita sofreu uma diminuição relativa.

Convém perceber, no entanto, que a tendência predominante deste pleito municipal foi a reeleição dos atuais prefeitos, por isso não se deve superestimar a ascensão da esquerda ou os reflexos deste pleito no de 2002.

Mas onde ocorreram mudanças ideológicas elas favoreceram os partidos de oposição. As capitais em que o prefeito não se reelegeu e houve alteração de bloco partidário foram São Paulo, Recife, Aracaju, Goiânia e Macapá. Nos cinco casos, partidos governistas (PPB, PFL, PMDB e PSDB) perderam o lugar para políticos que estão em agremiações à esquerda do centro.

Em São Paulo, sai Pitta e entra Marta Suplicy. Em Recife, João Paulo fica no lugar de Roberto Magalhães. Em Aracaju, capital de Sergipe, Marcelo Déda, do PT, substitui o peemedebista João Gama. Em Goiânia, o tucano Nion Albernaz cederá a cadeira ao petista Pedro Wilson. Em Macapá, o pefelista Aníbal Barcelos cederá o lugar para João Henrique Pimentel, do PSB.

Nas outras capitais ou o mandatário foi reconduzido ou substituído por candidatos do mesmo bloco partidário. Embora não se possa comparar o peso político de São Paulo com Macapá, a capital do Amapá, parece claro que a vitória da esquerda em São Paulo adquire outra característica uma vez que faz parte de um movimento mais geral. Isto é, não se trata apenas de um fenômeno local.

Claro que a eleição em São Paulo, pelo tamanho e pelo peso da capital paulistana, de fato altera o quadro político brasileiro. O comando do executivo paulistano é um trampolim importante para outros cargos, como governador e presidente, embora eu creia que os prefeitos eleitos agora tendam a ficar ao menos quatro anos à frente das municipalidades.

Nas cidades médias cujos resultados começam a ser divulgados, os partidos de esquerda também parecem apresentar bom desempenho. Pelotas (RS), Maringá (PR), Londrina (PR), Campinas (SP), Diadema (SP), Mauá (SP) e São José do Rio Preto (SP) escolheram prefeitos da oposição.

Em compensação, houve vitórias governistas em Santos (SP), Contagem (MG) e Canoas (RS). Também o fato do PFL ter mantido a prefeitura de Curitiba e ter auferido votações expressivas no Rio e em Recife modera o crescimento oposicionista e do PT em particular. No entanto, ela é clara suficiente para dizer que a política brasileira acorda diferente na manhã de 30 de outubro. Há uma oposição mais forte no país.






André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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