São Paulo    
O segredo do voto

Virada conservadora

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

A migração de votos em direção à direita registrada pelo DataFolha em diversas cidades do país _e publicada na quinta-feira pela Folha_ não é surpresa.

Tendo em vista o posicionamento conservador de grande parte do eleitorado nacional, registrado e analisado por mim em "Esquerda e direita no eleitorado brasileiro (Edusp, 2000)", nada mais natural do que a propaganda dos candidatos do PFL em Curitiba e Recife e do PPB em São Paulo, apenas para falar de grandes centros, surtir efeito.

O principal objetivo dessa campanha publicitária é mostrar ao cidadão conservador desavisado que ele corre o risco de colocar no poder um inimigo ideológico: a esquerda. Alertado do “erro”, esse eleitor corrige o roteiro.

Cabe investigar, isso sim, o que motivou a onda de simpatia inicial pelos candidatos do PT, do PPS e do PC do B que os levaram a sair na frente na corrida do segundo turno. Talvez eles tenham se beneficiado, em um primeiro momento, da rejeição aos governos atuais.

Ao passarem para o segundo turno, eles se tornaram os depositários de todo o sentimento de oposição aos prefeitos em final de gestão.

Agora, o que esses prefeitos procuram lembrar é que, embora descontentes com a administração local, haveria motivos ideológicos para evitar uma vitória de esquerda. Por isso, tal propaganda se dirige aos eleitores que já possuem uma tendência conservadora e não ao centrista típico - aquele que deseja mudanças, desde que elas sejam moderadas.

Essa é a razão pela qual Maluf, no debate da TV Bandeirantes, insistia em dizer que Marta pertencia ao PT das greves, da bagunça, das invasões.

O resultado da “operação lembrança” (lembrar aos conservadores que é a esquerda a inimiga) foi reaproximar as pesquisas de intenção de voto dos resultados do primeiro turno. Mas note-se que em duas capitais nas quais os partidos de esquerda buscam a reeleição (Porto Alegre e Belo Horizonte), os seus candidatos também cresceram.

Isso indica que a dez dias do pleito, a parcela mais oscilante do eleitorado tende a produzir os resultados esperados: quem ganhou no primeiro, ganha também no segundo.

O jogo só deve virar outra vez se os candidatos de oposição - e, agora, não importa se de esquerda ou de direita - conseguirem forjar alianças sociais amplas e sólidas com o centro, isolando o adversário ideológico. Disso dependerá a sorte dos que estão em segundo lugar. Vale a pena acompanhar porque serão interessantes casos de estratégia política e eleitoral.






André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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