São Paulo    
O segredo do voto

A importância do segundo turno

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

A campanha do segundo turno começou animada em diversas capitais. Ao contrário do que faria supor a larga vantagem que os primeiros colocados ostentavam sobre o concorrentes, pesquisas mostram certo equilíbrio entre os candidatos em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.

Mesmo em cidades nas quais a diferença é grande, como Curitiba (em favor do PT), Porto Alegre e Rio de Janeiro, trava-se uma debate acirrado. O clima não parece de ”já ganhou“ para nenhuma das partes. Diferente de São Paulo, onde a direção do PT trata de conter a euforia das bases.

Tudo pode mudar nas próximas semanas, mas até aqui a eleição paulistana é a menos emocionante. Tanto assim que as atenções já se voltam para o passo seguinte, o de saber como será composto o secretariado de Marta Suplicy.

Por isso interessa acompanhar a corrida nos lugares em que os diferentes partidos e forças ideológicas efetivamente têm chance de vitória.

É dessa matéria que se faz a democracia. Quando um dos lados não reúne condições de ganhar, a democracia fica capenga porque não disputa real, a única seiva capaz de vivificar a representação.

Penso que, dado o quadro geral que se desenhou no primeiro turno, as contendas em Recife e Curitiba têm particular relevância. Lá se confrontam os que hoje são, respectivamente, os principais partidos no campo da esquerda (PT) e da direita (PFL). O PFL apresenta-se com administradores respeitados (Roberto Magalhães e Cassio Taniguchi), enquanto o PT aparece como força em ascensão, representante de correntes renovadoras.

Ou seja, os dois lados chegam ao segundo turno com o que possuem de melhor.

Não se trata, portanto, de uma simples luta entre máquinas carcomidas, mas da opção entre caminhos distintos, porém consistentes, para as metrópoles brasileiras.

A vitória de um ou outro nessas capitais não irá mudar a essência da correlação de forças nacional, como procurei mostrar na última coluna. A supremacia de votos da situação sobre a oposição é grande demais (algo em torno de 60% para a primeira contra 30% para a segunda), para ser revertida na segunda volta.

Mas as decisões locais serão significativas de tendências do eleitorado. Serão sinais de apoio a esta ou aquela alternativa de política pública municipal.

Por tudo isso, creio estarmos em face da mais importante eleição municipal pós-redemocratização. Ela não vai remodelar a cara do sistema político brasileiro, mas penso que a democracia sairá fortalecida e mais consistente das urnas de 29 de outubro.






André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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