São Paulo    
O segredo do voto

O último debate

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

O encontro televisado entre os candidatos na noite de quinta-feira (28/9) podia decidir quem seria o adversário de Marta Suplicy no segundo turno da eleição paulistana. Não aconteceu. Paulo Maluf, Romeu Tuma e Geraldo Alckmin - os três que a meu ver disputam o eleitorado de centro e de direita _não tiveram atuações excepcionais.

Dessa forma, a menos que alguma pesquisa de última hora vire o quadro, a corrida entre os três irá até a boca da urna. No entanto, se a capacidade de expressão no vídeo contar para alguma coisa, parece mais provável que a opção recaia sobre Maluf.

O ex-prefeito e ex-governador conseguiu ser mais claro e mais agressivo que seus dois concorrentes diretos. Mostra ter um conhecimento nítido de que a decisão caberá à periferia. Falou para os formadores de opinião capazes de atrair votos em locais distantes do Morumbi, onde ficam os estúdios da TV Bandeirantes.

Naquele momento, as camadas mais escolarizadas já estavam com a sua decisão tomada. Nesses grupos, Marta e Alckimin são os preferidos. Acontece que, embora importante porque forma a opinião pública que se expressa na mídia, trata-se de um grupo eleitoralmente restrito.

Como em São Paulo há uma muralha invisível que separa os bairros ricos da periferia, é duvidoso o quanto da imagem de seriedade e conhecimentos dos problemas da cidade que Alckimin procurou passar terá efeito nas vilas pobres.

Maluf insistiu com a habitual nitidez em dois pontos. Na necessidade de uma ação dura contra o crime e nos ataques ao PT. No que diz respeito à questão da segurança, usou um jogo de palavras significativo ao afirmar que primeiro é preciso pensar ”nos humanos que são direitos“, do que nos direitos humanos em geral.

A diferença pode parecer sutil, mas não é. A idéia de direitos humanos não comporta diferenças, por mais difícil que seja conviver com a insegurança permanente de São Paulo.

O recado de Maluf dirige-se ao eleitor da periferia, onde a ameaça do crime inferniza o cotidiano dos cidadãos. O candidato do PPB promete ”tolerância zero“. Sabe com quem está falando.

O segundo objetivo de Maluf também foi alcançado. Conseguiu criar um confronto direto com Marta Suplicy em vários momentos do debate. Desde a insistência em lembrar que Marta elogiou o programa do Leveleite até a discussão _a melhor da noite_ sobre as prioridades na área de transporte, Maluf procurou convencer o eleitor antipetista ser ele a melhor opção para combater a esquerda.

De substantivo o debate teve pouco. Foi elegante, o que, sem dúvida é bom, mas não aprofundou os temas de políticas públicas. O caos do trânsito acabou por tornar-se o item melhor tratado.

Marta foi sincera ao dizer que não há solução a curto prazo e que, a seu ver, a única saída é o metrô. Maluf aproveitou para falar de suas obras na área. Ao que Marta argumentou terem sido prioridades equivocadas (asfalto em lugar de trilhos). Cabe ao eleitor julgar quem tem razão.

Do ponto de vista dos objetivos imediatos, isso foi bom para Maluf, pois reforçou a idéia de que ele é o grande adversário do PT. Se depender do debate de quinta _o que é pouco provável_ o confronto entre esquerda e direita vai se estender por mais um mês, até que o segundo turno resolva a parada no maior colégio eleitoral do país entre Marta e Maluf.




André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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