São Paulo    
O segredo do voto
Para aonde vai o centro?

ANDRÉ SINGER
colunista da Folha Online

A Folha publicou na quarta-feira uma pesquisa sobre o perfil ideológico do paulistano. Vale a pena observar com atenção os números colhidos pelo DataFolha. São Paulo é hoje uma espécie de síntese do país. Existe na cidade uma classe média pujante e extensa.

Nela cabe desde o eleitor malufista dos jardins até o petista de Pinheiros, passando pelo tucano do Pacaembu. Na enorme e movimentada periferia da capital também há gosto para tudo. O petista do Socorro convive com o Malufista de Parelheiros, e no meio está o erundinista de Sapopemba (na periferia a presença do PSDB é menor).

Como escrevemos aqui na coluna de estréia, os dados da pesquisa confirmam que haverá uma tendência à polarização em São Paulo. Isso ocorre porque o posicionamento à esquerda (21%) e à direita (30%) supera com certa folga a inclinação dos votantes pela centro-esquerda (13%) e pela centro-direita (13%). Para que houvesse maior convergência entre os candidatos - isto é, que a distância ideológica fosse menor - seria necessário que as opções de centristas fossem mais fortes.

No entanto, há uma outra forma de analisar a pesquisa, que permite iluminar um ângulo pouco explorado. Se somarmos todos os eleitores que se posicionam em torno do centro, quer dizer os que se consideram propriamente de centro (23%) com aqueles que preferem a centro-esquerda e a centro-direita, perceberemos que a maioria dos entrevistados (49%) é centrista e não de esquerda ou direita.

Ao interpretar os dados dessa maneira, fica claro que a disputa será decidida pelo centro. Se de fato ocorrer uma polarização entre Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PPB), cada um dos candidatos contará com a simpatia inicial de sua própria base ideológica.

Marta tem boas chances de atrair os 21% de eleitores que se posicionaram à esquerda (um número, aliás, superior ao que costumava ter a esquerda nas pesquisas nacionais) e Paulo Maluf, com a pregação da lei e da ordem, é o candidato natural da direita. Mas como esquerda e direita são minoritárias, caberá aos eleitores centristas decidirem quem afinal governará a maior cidade brasileira.

É provável que os cidadãos de centro-esquerda inclinem-se por Marta (ao menos no segundo turno). Mas e os eleitores de centro? E os de centro-direita? Quem se posiciona ao centro e na centro-direita, tende a rejeitar o PT, partido com uma nítida história de esquerda.

Contudo, o profundo desgaste da gestão Pitta deve ter abalado a ligação dos eleitores de centro-direita com a maior liderança de direita da cidade, Paulo Maluf. Optarão eles por Tuma? Os centristas, por sua vez, tenderiam, em condições menos polarizadas, a escolher o candidato do PSDB, partido que hoje ocupa o espaço do centro.

A baixa competitividade dos tucanos em São Paulo, porém, pode levá-los (outra vez) a tomar um rumo diferente. A julgar pelo alto índice de apoio a Marta entre os mais ricos, a inclinação atual do centro é para a esquerda, e por isso ela está hoje em primeiro lugar.

À medida que a propaganda na TV começar, poderemos observar o esforço dos candidatos por conquistar o centro. No caso de Marta, manter a simpatia conquistada. No caso de Maluf, mostrar as diferenças ideológicas entre o centro e a esquerda. É do êxito dessa empreitada que dependerá a vitória de um ou outro.




André Singer
Repórter especial da Folha de S.Paulo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Escreve todas as quartas e sextas-feiras no Eleições Online. E-mail: asinger@uol.com.br

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