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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  28 de novembro
  O pinto e o urso
   
   
 

A mãe estava gripada, o pai decidiu quebrar o galho e ir à feira, a menina pediu para ir com o pai, ela conhecia as melhores barracas, nas quais a mãe costumava comprar.

No meio do caminho, não havia uma pedra mas um garoto que vendia pintos. Estavam todos em cima de uma folha de jornal, com alpiste em volta. A menina pediu que o pai comprasse, pelo menos um.

- Mas para quê você vai querer um pinto? Quando crescer vai virar galinha e como é que vamos criar uma galinha num apartamento?

A menina insistiu e o pai, que tinha coração mole, comprou o pinto. Veio num saco de armazém, no qual fizeram furinhos para o pinto respirar. Chegaram em casa e a mãe, apesar da gripe, ou por isso mesmo, estava de mau humor e reclamou. Que diabo, fazer o quê com um pinto dentro de casa? Onde vai dormir?

A menina disse que tomaria conta dele. Era tão bonitinho, tão fofinho. Na primeira noite, até que o pinto não deu trabalho, dormiu numa caixa de sapato, ao lado da cama da menina.

Na manhã seguinte, ela acordou, foi olhar o pinto e não havia pinto na caixa de sapato. Impossível que ele tivesse pulado lá de dentro, era tão pequenino, com as perninhas tão frágeis. Mesmo assim, ela o procurou pelo apartamento, olhou em baixo dos móveis, em cima de tudo o que pudesse ser alcançado por um pinto tão pequenino, tão frágil, tão doce.

A menina interrogou a empregada, interrogou o pai, e até a mãe, que já estava ficando boa da gripe. Ninguém assumiu o sumiço do pinto. A menina ficou sabendo que vivia no meio de gente fingida.

Para compensar, o pai foi num loja de brinquedos que havia perto de casa, trouxe-lhe um ursinho de pano. Não era a mesma coisa. Já que todo mundo fingia, a menina fingiu que gostava do urso. Depois a menina cresceu, cresceu e esqueceu do pinto e do ursinho. Mas aprendeu a fingir.

Finge até hoje e até hoje não sabe por que é tão difícil deixar que os outros sejam felizes.


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