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A
mãe estava gripada, o pai decidiu quebrar o galho e ir à
feira, a menina pediu para ir com o pai, ela conhecia as melhores
barracas, nas quais a mãe costumava comprar.
No meio do caminho, não havia uma pedra mas um garoto que
vendia pintos. Estavam todos em cima de uma folha de jornal, com
alpiste em volta. A menina pediu que o pai comprasse, pelo menos
um.
- Mas para quê você vai querer um pinto? Quando crescer
vai virar galinha e como é que vamos criar uma galinha num
apartamento?
A menina insistiu e o pai, que tinha coração mole,
comprou o pinto. Veio num saco de armazém, no qual fizeram
furinhos para o pinto respirar. Chegaram em casa e a mãe,
apesar da gripe, ou por isso mesmo, estava de mau humor e reclamou.
Que diabo, fazer o quê com um pinto dentro de casa? Onde vai
dormir?
A menina disse que tomaria conta dele. Era tão bonitinho,
tão fofinho. Na primeira noite, até que o pinto não
deu trabalho, dormiu numa caixa de sapato, ao lado da cama da menina.
Na manhã seguinte, ela acordou, foi olhar o pinto e não
havia pinto na caixa de sapato. Impossível que ele tivesse
pulado lá de dentro, era tão pequenino, com as perninhas
tão frágeis. Mesmo assim, ela o procurou pelo apartamento,
olhou em baixo dos móveis, em cima de tudo o que pudesse
ser alcançado por um pinto tão pequenino, tão
frágil, tão doce.
A menina interrogou a empregada, interrogou o pai, e até
a mãe, que já estava ficando boa da gripe. Ninguém
assumiu o sumiço do pinto. A menina ficou sabendo que vivia
no meio de gente fingida.
Para compensar, o pai foi num loja de brinquedos que havia perto
de casa, trouxe-lhe um ursinho de pano. Não era a mesma coisa.
Já que todo mundo fingia, a menina fingiu que gostava do
urso. Depois a menina cresceu, cresceu e esqueceu do pinto e do
ursinho. Mas aprendeu a fingir.
Finge até hoje e até hoje não sabe por que
é tão difícil deixar que os outros sejam felizes.
Leia colunas anteriores
21/11/2000 - Peste medieval
14/11/2000 - A
moça que queria ser feliz
07/11/2000 - O nascimento de Vênus
31/10/2000 - Ganhos e perdas
24/10/2000 - Reflexão
e Protesto
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