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Aeroporto
de Miami, sala vip da United Airlines, dois vôos quase simultâneos
para o Rio e outro para São Paulo. Um casal jovem, bem apessoado,
instala-se à minha frente. O rapaz desembrulha um notebook,
apodera-se de um espaço exagerado para suas necessidades,
liga o modem numa tomada da parede, estende o fio pelas poltronas
onde outros passageiros aguardam o momento de embarcar.
Sua Excelência, o Internauta, não pode ficar um minuto
sem estar on line. A moça, até que bonita e elegante,
com as sacolas das compras feitas no free shop, está de cara
amarrada.
O rapaz entra em linha e abre sua correspondência. Ou melhor,
ele é quem a inicia, comunicando a cinco destinatários
diferentes que, naquele momento mesmo, está na sala vip do
aeroporto de Miami, esperando o vôo para São Paulo.
A notícia que transmite não deve ter causado impacto,
pois nenhum dos destinatários responde. O Internauta rói
as unhas e abre seus endereços virtuais, à procura
de algum desocupado que esteja disponível para o bate-papo
virtual.
Descobre um ex-colega de ginásio, que não via há
muito. Apresenta-se, comunica que está na sala vip do aeroporto
de Miami, aguardando vôo na classe executiva da United Airlines,
que estivera em Orlando e comprara um celular que acabara de ser
lançado no mercado.
Como resposta, o ex-colega deseja-lhe boa viagem.
O alto-falante chama os passageiros que se destinam a São
Paulo. Sua Excelência, o Internauta, faz cara desolada, logo
agora que encontrara um interlocutor, alguém com que podia
se comunicar, trocar idéias! Recolhe o comprido fio que ligara
ao modem, fecha o notebook mas abre o tal celular que comprara em
Orlando. Liga para outro amigo, comunica que está na sala
vip do Aeroporto de Miami, embarcando naquele momento mesmo para
São Paulo. O amigo deseja-lhe boa viagem. Ele agradece.
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