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  4 de julho
  Entre a moda e o prato de sopa
 

Você decerto já ouviu falar dele. Claro, não há dúvida. Aliás, ele jamais foi tão comentado como agora. Parece que ele já vem misturado à saliva, tamanha a naturalidade com que escorre dos lábios mais improváveis.
Ele virou unanimidade nacional. Disse nacional e já me corrijo: a concordância em torno dele não encontra fronteiras. É internacional, planetária. A tese de que é preciso dar mais atenção a ele mobiliza os líderes mundiais, reunidos no G-7.
Ele está presente em todos os relatórios que têm alguma importância: da ONU, do Banco Mundial, do FMI. É mencionado em teses acadêmicas, artigos de jornal, panfletos, cartazes, convites para aniversário de criança...
Entre nós, à medida que o Brasil vai penetrando o insondável, as menções a ele aumentam. A esquerda não fala em outra coisa. FHC só tem olhos para ele. Noutro dia, até o Malan o enfiou num discurso.
Ninguém é contra ele. Pelo menos não há quem ouse declarar-se em oposição. Ele comove a elite intelectual. Sensibiliza também a nata financeira, sempre tão ocupada com o próprio umbigo. No Fasano, cavam-se trincheiras em sua defesa.
Mas quem é, afinal, este “ele” de quem tanto falamos? Ora, ainda não adivinhou? Estamos nos referindo, obviamente, ao social. Sim, ele mesmo, o social. De uns tempos para cá, mata-se e morre-se pelo social. O problema é que a batalha é travada apenas no campo retórico. O que estraga as coisas é a incapacidade nacional de transformar palavras em atos, de passar do discurso à prática.
Se dependesse do palavrório, não haveria mais miséria no Brasil. A ausência de distribuição de renda não atormentaria mais a nossa consciência. O diabo é que a população miserável, apressada e intransigente, não tem tempo para ouvir. Trocaria as boas intenções por um prato de sopa. Fácil, fácil. Sem hesitação.


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