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Você
decerto já ouviu falar dele. Claro, não há dúvida. Aliás, ele jamais
foi tão comentado como agora. Parece que ele já vem misturado à
saliva, tamanha a naturalidade com que escorre dos lábios mais improváveis.
Ele virou unanimidade nacional. Disse nacional e já me corrijo:
a concordância em torno dele não encontra fronteiras. É internacional,
planetária. A tese de que é preciso dar mais atenção a ele mobiliza
os líderes mundiais, reunidos no G-7.
Ele está presente em todos os relatórios que têm alguma importância:
da ONU, do Banco Mundial, do FMI. É mencionado em teses acadêmicas,
artigos de jornal, panfletos, cartazes, convites para aniversário
de criança...
Entre nós, à medida que o Brasil vai penetrando o insondável, as
menções a ele aumentam. A esquerda não fala em outra coisa. FHC
só tem olhos para ele. Noutro dia, até o Malan o enfiou num discurso.
Ninguém é contra ele. Pelo menos não há quem ouse declarar-se em
oposição. Ele comove a elite intelectual. Sensibiliza também a nata
financeira, sempre tão ocupada com o próprio umbigo. No Fasano,
cavam-se trincheiras em sua defesa.
Mas quem é, afinal, este “ele” de quem tanto falamos? Ora, ainda
não adivinhou? Estamos nos referindo, obviamente, ao social. Sim,
ele mesmo, o social. De uns tempos para cá, mata-se e morre-se pelo
social. O problema é que a batalha é travada apenas no campo retórico.
O que estraga as coisas é a incapacidade nacional de transformar
palavras em atos, de passar do discurso à prática.
Se dependesse do palavrório, não haveria mais miséria no Brasil.
A ausência de distribuição de renda não atormentaria mais a nossa
consciência. O diabo é que a população miserável, apressada e intransigente,
não tem tempo para ouvir. Trocaria as boas intenções por um prato
de sopa. Fácil, fácil. Sem hesitação.
Leia colunas anteriores
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20/06/2000
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13/06/2000
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30/05/2000 - Forças Armadas e (talvez)
Corruptas
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