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09/06/2003
-
06h23
Do enviado especial da Folha de S.Paulo ao Amazonas
A harmonia entre o ser humano e a natureza que impera na vida dos caboclos é revelada ao turista que visita a casa de um ribeirinho. A bordo de um bote, o grupo ruma pelo rio e pára em uma comunidade qualquer. Ali, entra em contato com uma rotina inédita, principalmente para os que vivem em grandes centros urbanos.
Moradores de cabanas simples, elevadas por vigas de madeira para evitar as inundações dos períodos das cheias, esses ribeirinhos plantam e pescam o necessário para viver. Quando há sobras, o "chefe da comunidade", cargo que ninguém dali quer ostentar (pois quem alardeia ganha mais trabalho e responsabilidade), avisa: "Hoje é dia de festa".
O excedente da pesca vira, então, caldeirada à vontade e motivo de reunião e diversão.
A reportagem da Folha esteve na cabana "Fé em Deus", do caboclo Miguel dos Santos Costa, 53. Para sustentar a esposa, os dez filhos e os cinco netos, Costa pesca das 5h às 8h e das 19h às 20h, planta na várzea e faz empreitadas para empresas de hotelaria e construtoras locais. O dia dos filhos também começa cedo, às 3h da manhã. Eles pegam o "barco escolar", da prefeitura, rumo ao colégio mais próximo.
"Estico a malhadeira [rede] à noite. Na manhã, acordo para vigiar. Jacarés aparecem e acabam com a pescaria. As lontras são poucas, mas perversas", diz Costa. "Quando o tambaqui entra, só traz felicidade", afirma, se referindo ao peixe mais procurado nas águas da rio Amazonas.
Na propriedade do caboclo, em terras baixas, frutificam a macaxeira (mandioca), o cará, a maniquera (para sopa), o tucumã e outras plantas para subsistência.
Costa mora há 23 anos na região e diz que jamais trocaria as margens do rio Samabani por uma cidade grande. "Aqui não tenho preocupação com violência e tenho mais liberdade. Meus filhos saem para pescar e para as festas, e eu fico tranquilo." Em Manaus, qualquer barulho ou agitação incomoda o ribeirinho. "Não somos muito chegados à civilização."
Fraternidade é a tônica das relações nas comunidades. "Precisamos dos vizinhos para socorrer de bote até o hospital [a uma hora dali, em Silves] nossos filhos doentes, e nos servimos para trocar mantimentos e dias de trabalho. Todos são irmãos."
Maria Corrêa Costa, 41, mulher do caboclo, cuida da casa e da colheita. "O que mais gostam em casa é de peixe assado na brasa", diz ela, que, junto do marido, faz coro contra os vereadores da região. "Às vezes, não tenho capital para comprar enxada, facão, foice e outras ferramentas. Se vou pedir, eles viram as costas."
O chão da casa é de terra batida, e as paredes e o teto, feitos de palha. Em canoas pelos rios, unidos na lida, ou em suas cabanas, esses moradores das margens do rio seguem um modo de vida parecido com o dos índios, em harmonia com as leis da selva.
Passeios desse tipo estão incluídos nos pacotes dos hotéis, que custam de R$ 1.290 a R$ 1.650. Os ribeirinhos só ganham com a venda de artesanato (R$ 5 a peça).
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Vida de caboclo ensina harmonia ao turista
RODRIGO RAINHODo enviado especial da Folha de S.Paulo ao Amazonas
A harmonia entre o ser humano e a natureza que impera na vida dos caboclos é revelada ao turista que visita a casa de um ribeirinho. A bordo de um bote, o grupo ruma pelo rio e pára em uma comunidade qualquer. Ali, entra em contato com uma rotina inédita, principalmente para os que vivem em grandes centros urbanos.
Moradores de cabanas simples, elevadas por vigas de madeira para evitar as inundações dos períodos das cheias, esses ribeirinhos plantam e pescam o necessário para viver. Quando há sobras, o "chefe da comunidade", cargo que ninguém dali quer ostentar (pois quem alardeia ganha mais trabalho e responsabilidade), avisa: "Hoje é dia de festa".
O excedente da pesca vira, então, caldeirada à vontade e motivo de reunião e diversão.
A reportagem da Folha esteve na cabana "Fé em Deus", do caboclo Miguel dos Santos Costa, 53. Para sustentar a esposa, os dez filhos e os cinco netos, Costa pesca das 5h às 8h e das 19h às 20h, planta na várzea e faz empreitadas para empresas de hotelaria e construtoras locais. O dia dos filhos também começa cedo, às 3h da manhã. Eles pegam o "barco escolar", da prefeitura, rumo ao colégio mais próximo.
"Estico a malhadeira [rede] à noite. Na manhã, acordo para vigiar. Jacarés aparecem e acabam com a pescaria. As lontras são poucas, mas perversas", diz Costa. "Quando o tambaqui entra, só traz felicidade", afirma, se referindo ao peixe mais procurado nas águas da rio Amazonas.
Na propriedade do caboclo, em terras baixas, frutificam a macaxeira (mandioca), o cará, a maniquera (para sopa), o tucumã e outras plantas para subsistência.
Costa mora há 23 anos na região e diz que jamais trocaria as margens do rio Samabani por uma cidade grande. "Aqui não tenho preocupação com violência e tenho mais liberdade. Meus filhos saem para pescar e para as festas, e eu fico tranquilo." Em Manaus, qualquer barulho ou agitação incomoda o ribeirinho. "Não somos muito chegados à civilização."
Fraternidade é a tônica das relações nas comunidades. "Precisamos dos vizinhos para socorrer de bote até o hospital [a uma hora dali, em Silves] nossos filhos doentes, e nos servimos para trocar mantimentos e dias de trabalho. Todos são irmãos."
Maria Corrêa Costa, 41, mulher do caboclo, cuida da casa e da colheita. "O que mais gostam em casa é de peixe assado na brasa", diz ela, que, junto do marido, faz coro contra os vereadores da região. "Às vezes, não tenho capital para comprar enxada, facão, foice e outras ferramentas. Se vou pedir, eles viram as costas."
O chão da casa é de terra batida, e as paredes e o teto, feitos de palha. Em canoas pelos rios, unidos na lida, ou em suas cabanas, esses moradores das margens do rio seguem um modo de vida parecido com o dos índios, em harmonia com as leis da selva.
Passeios desse tipo estão incluídos nos pacotes dos hotéis, que custam de R$ 1.290 a R$ 1.650. Os ribeirinhos só ganham com a venda de artesanato (R$ 5 a peça).
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