'Jovens precisam voltar para cozinha', diz filho de Bocuse
Jérôme veio ao Rio divulgar concurso de jovens talentos e falou sobre os rumos da gastronomia e a disciplina
'Um jovem chef já quer começar com sucesso. Não é bem assim. É preciso disciplina e consistência', diz ele
Em uma rápida passagem pelo Rio, Jérôme Bocuse, 45, filho do mestre da cozinha francesa Paul Bocuse, escolheu a caipirinha como bebida favorita para relaxar entre um compromisso e outro.
Na varanda de um hotel debruçada na praia de Copacabana, ele falou à Folha sobre os rumos da gastronomia. "Está na hora de os chefs voltarem para a cozinha."
Ele veio ao Rio para divulgar o concurso de jovens talentos Bocuse d'Or, que fará parte dos eventos do Sirha, encontro internacional de grandes chefs que o Rio vai sediar em outubro do ano que vem pela primeira vez.
Se seu pai foi um dos grandes responsáveis no passado pelos chefs terem saído da cozinha e conquistado o estrelato, hoje ele acha que está na hora de fazer o caminho de volta. "Um jovem chef agora já quer começar com sucesso. Estuda um, dois anos e acha que está pronto. Não é bem assim. É preciso disciplina e consistência."
O que mostra que o caminho para vencer o Bocuse d'Or (criado em 1987 em Lyon, terra natal da família) não há de ser fácil. Jérôme conta ter relutado com a profissão de chef, já que via desde cedo seu pai trabalhar demais, nos finais de semana e feriados. "Ele nunca tinha um folga, achava aquilo massacrante."
Gostava de esportes e só começou a se interessar por gastronomia mais tarde, depois dos 20 anos. Foi estudar culinária em Nova York e hoje mora em Orlando, comandando o pavilhão francês de Epicot Center.
"O trabalho que faço em Orlando é mostrar um pouco da culinária francesa para que as pessoas tenham vontade de ir conhecer de perto", diz. "Estou continuando o que meu pai começou."
Nascido em Lyon, Jérôme não se considera um tradicionalista e gosta de viajar e provar sabores novos. Filho bem criado da "nouvelle cuisine", valoriza os bons produtos e uma cozinha de referência.
"Fui comer recentemente em um três-estrelas ["Michelin"], cujo nome não quero dizer, e o visual da comida era impactante, mas não consegui passar do primeiro prato: não tinha sabor", diz.
Segue a cartilha do pai, que disse certa vez: "Só existe uma culinária: a boa."
No Rio, ele deliciou-se com a caipirinha, almoçou no premiado Irajá Gastrô, do chef Pedro de Artagão, no qual comeu um frango com quiabo, "muito saboroso", e participou de um jantar em homenagem aos franceses Claude Troisgros, Laurent Suaudeau (que veio para o Brasil trazido por seu pai) e Roland Villard, feito por chefs brasileiros e franceses.
Promete voltar ao país no ano que vem para descobrir novos talentos por aqui. Só um ganhará o aval dos Bocuse.