Intercâmbio cervejeiro
Brasil vê crescer a colaboração entre marcas artesanais nacionais e estrangeiras, que ajuda a nos tirar da lanterninha e a melhorar a qualidade do que a gente anda bebendo
As prateleiras de cerveja de mercados e empórios passaram por uma mudança. Antes ocupadas por bebidas de grandes marcas, agora dividem espaço com artesanais.
Pois o momento dessas empresas de pequeno porte --que ainda respondem por estimados cerca de 1% do setor de cervejas no país, mas crescem em torno de 30% ao ano-- é mesmo especialmente positivo.
O setor está tão aquecido que, no começo de fevereiro deste ano, a gigante Ambev anunciou a compra da microcervejaria mineira Wäls --e a criação de uma nova empresa, para unir a marca artesanal à Bohemia.
Um outro movimento recente da chamada "revolução cervejeira" é o de pequenas marcas brasileiras desenvolverem receitas especiais em parceria com empresas estrangeiras de mesmo porte.
Os mestres-cervejeiros, porém, advertem: isso não deve ser visto pelo lado negativo, como complexo de vira-lata.
Primeiro porque, dizem, na maioria dos casos, são as cervejarias artesanais de fora que procuram as daqui para propor a parceria --reflexo do crescimento brasileiro.
Além disso, elas vêm de mercados nos quais a "revolução" já é realidade, como os Estados Unidos, onde esse nicho representa cerca de 14% do setor, segundo a Brewers, a associação americana de cervejas artesanais.
Nas prateleiras brasileiras, isso significa mais opções para o cliente com o DNA de marcas que têm mais anos de estrada e acesso mais fácil a uma gama variada de maltes e lúpulos, insumos básicos da bebida que aqui são em geral importados ou produzidos em escala experimental.
É como se um chef estrelado, com vasto conhecimento e acesso a produtos nobres, viesse fazer um menu com um cozinheiro em ascensão.
FESTIVAL NACIONAL
Para celebrar e dar espaço a essas bebidas artesanais, foi criado o Festival Brasileiro da Cerveja, cuja sexta edição vai de 11 a 14 de março, em Blumenau (SC). Ele servirá de palco para ao menos seis lançamentos das chamadas cervejas colaborativas --como a Curitiba Pale Ale, parceria entre a paranaense Bodebrown e a inglesa Adnams.
"O interesse estrangeiro pela nossa cerveja só cresce porque eles nos veem trilhando o mesmo caminho e sabem que, além de um mercado consumidor promissor, temos um leque imenso de ingredientes", diz o beer sommelier Mauricio Beltramelli.
Por isso, as colaborativas costumam levar itens como uvaia (fruta), rapadura, cachaça e pimenta-rosa.
O benefício de trocar experiências com quem já tem mais anos de brassagem ajuda, de acordo com os cervejeiros, nos rótulos seguintes que a marca brasileira vai fazer com as próprias pernas.
"Nós bombardeamos os estrangeiros de perguntas e implementamos mudanças imediatas, como no tempo de repouso do lúpulo no mosto", diz Guilherme Hoffman, da Cervejaria Nacional, que já fez receitas com a alemã Paulaner e a americana Odell.