Alexandra Corvo
Sobre ser embaixadora
Ser embaixadora do vinho de uma região é estar capacitada a representar aquela cultura, traduzi-la e disseminá-la como uma educadora. No caso da Itália, a tarefa é árdua: trata-se de uma vinícola de mais de 2.000 anos.
Em fevereiro recebi um e-mail. Caiu como uma bomba. De chocolate: doce, mas meio pesada. Um convite para a Vinitaly International Academy, um curso, com uma prova final, para ser embaixadora do vinho italiano.
A certificação foi criada por Stevie Kim, a agitada nova-iorquina diretora da Vinitaly International, junto com o genial professor Ian d'Agata, pesquisador italiano, autor do livro "Native Wine Grapes of Italy" (uvas viníferas nativas da Itália).
O calhamaço de 600 páginas seria a base do curso e meu companheiro naquele processo intenso, juntamente com um pesado casaco que me ajudaria a aguentar os 2ºC que fazia em Verona.
Mas eu não passei frio. Nem eu nem os 50 colegas --todos educadores do vinho. Passamos mais de 30 horas entre aulas teóricas, degustações e visitas a produtores.
A viticultura da Itália é confusa e complexa: a tradição muito antiga, o número de uvas locais, com nomes diversos dependendo da região (em torno de 600 oficiais, mas provavelmente o dobro disso, segundo Ian), aliados a uma cultura arraigada à terra, pouco globalizada, gera possibilidades infinitas de estilos de vinho. E de nomes. Que às vezes são de uvas, às vezes de regiões. É embaralhado.
Tornar-me a única embaixadora do vinho italiano aqui na América Latina foi uma experiência tensa, mas, sem dúvida, das mais profundas: a de aprender não sobre o vinho. Mas a de aprender a explicá-lo definitivamente, para amadores e profissionais --o deliciosamente caótico universo vinícola italiano.