Menu é montado como tabuleiro de xadrez
Refeições oficiais levam em conta o paladar dos convidados e também podem servir como demonstração de poder
Lula decidiu adotar bufê para fazer líderes conversarem enquanto se servem; Dilma voltou ao formato tradicional
No livro "A Mesa e a Diplomacia Brasileira - O Pão e o Vinho da Concórdia" (Editora de Cultura), o escritor Carlos Cabral compara as regras da gastronomia diplomática a um tabuleiro de xadrez.
"Cada peça tem seu valor e importância previamente definidos, e a vitória nesse confronto deve ser inteligente e elegante", afirma.
A avaliação reflete a preocupação e o cuidado não apenas em elaborar os pratos mas também com o tipo de serviço adotado.
É praxe, por exemplo, questionar assessores de presidentes e ministros, de antemão, sobre eventuais alergias ou restrições alimentares. O perfil do convidado também deve ser analisado.
Na sede do Itamaraty, o foco é o destaque à culinária nacional. Para Tânia Manzur, professora de negociações internacionais na UnB (Universidade de Brasília), o uso de elementos culturais é um "instrumento de aproximação" entre os países.
Ao lado da literatura e do cinema, por exemplo, a gastronomia contribui para o chamado "soft power". "Algumas estratégias podem ser mais eficientes e eficazes do que a própria ameaça ou coerção entre nações", comenta a professora.
A França, já reconhecida pela qualidade de sua gastronomia, investe na preocupação em exportar uma boa imagem do país a partir de sua culinária. Seu objetivo atualmente é, a partir do estômago dos visitantes do país, ampliar de 84 milhões para 100 milhões o número de turistas internacionais.
Recentemente, houve a promoção, em parceria com o renomado chef Alain Ducasse, de uma campanha para servir um menu com ingredientes e pratos franceses em cerca de 150 países.
"A diplomacia é a arte de dialogar. Quando a culinária é boa e os vinhos são bons, a língua se delicia e as pessoas se aproximam", defende o embaixador da França Denis Pietton.
CHURRASCO E LULA
Para dar um tom mais intimista à refeição, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, recebeu em 2011 o colega da Rússia, Vladimir Putin, em seu rancho, no Texas. Serviu churrasco e torta de nozes-pecã, tipicamente americana.
No Brasil, houve mudança recente na forma como os pratos são servidos. Durante o governo Lula (2003-2010), o serviço à francesa --em que convidados recebem ao mesmo tempo o prato já elaborado-- deu espaço ao bufê.
Se antes havia mais tempo para a conversa entre os presentes numa mesma mesa, a ideia passou a ser a convivência ao se servir e no caminho entre o balcão e a cadeira.
Ao ser eleita, Dilma Rousseff retomou o formato anterior, mais tradicional na diplomacia.