Comer com os olhos
Sucesso de reality shows e de perfis de Instagram reforça valor da ligação entre comida e design
"Você tem que olhar o prato como uma tela em branco. Você está pintando o prato e suas cores são o que você preparou", disse a chef Paola Carosella na eliminação de um participante na última edição do reality show "MasterChef".
As críticas que os jurados faziam ao aspecto visual das criações dos competidores e a influência de apps como o Instagram ajudam a chamar a atenção para um elemento central da gastronomia: a apresentação dos pratos.
É como diz a expressão "comer com os olhos": se você pensa em algo que tem vontade de comer, são grandes as chances de os ingredientes estarem dispostos, ainda que só na sua imaginação, de forma organizada –não só viçosos e suculentos, mas também bonitos e atraentes.
Esse aspecto é abordado na exposição "Tapas: Design Espanhol para a Gastronomia", em cartaz no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo (leia mais em folha.com/no1682154 ).
A mostra aborda, por meio de utensílios, objetos e pratos, a interação entre o design e a gastronomia, que andam lado a lado.
"Costumo testar até quatro desenhos antes de bater o martelo na forma de servir um novo prato", conta a chef Renata Vanzetto, do Ema e do Marakuthai (e suas filiais).
Treino e dedicação são os primeiros passos para conseguir elaborar melhor a apresentação de um prato (veja no quadro ao lado algumas dicas). Mas criar repertório estético também é importante.
"Eu pesquiso sobre design e me interesso por arquitetura e outras artes visuais, que servem de estímulo", conta o chef Alberto Landgraf, do Epice.
"Brinco com meus funcionários que, se eles não assistirem a algo além de futebol, não vão conseguir montar um prato bonito."
Não à toa, a febre de compartilhar fotos de comida nas redes sociais fez com que ganhassem popularidade perfis dedicados só a imagens de pratos com apresentação contemporânea ou inusitada, que ajudam a popularizar referências; dois dos mais famosos no Instagram são o The Art of Plating (@theartofplating; 192 mil seguidores) e o Gastro Art (@gastroart; 185 mil seguidores).
Os chefs Gabriel Matteuzzi e Guilherme Vinha, do Tête-a-Tête, observam um aumento expressivo nos pedidos de pratos retratados por perfis na rede social."O impacto é muito rápido, as fotos que aparecem no Instagram têm muita força", comenta Vinha.
Além da disposição dos ingredientes, pesquisas visuais de louças e outros suportes para acomodar receitas podem incrementar.
"Quando o Alex Atala estava procurando pratos para servir receitas com formigas, lembramos que elas carregam folhas e desenhamos um neste formato", diz Gabi Neves, sócia do StudioNeves, que já criou louças, além do D.O.M., para o Lasai (no Rio), o Epice e o Tuju, entre outras casas.
Ela explica que, além do design, os materiais usados podem fazer a diferença.
"A argila, que resulta na cerâmica e na porcelana, tem propriedades refratárias, retém bem o calor", afirma. É a forma ajudando o conteúdo.
OLHOS QUE ENGANAM
No restaurante Soeta, de Vitória (ES) –que usa 30 louças distintas no maior menu-degustação da casa, com 30 pratos–, a ideia é que o visual ajude a criar experiências "multissensoriais", segundo o chef Pablo Pavón.
Uma das etapas é o drinque chamado de "falso chope", que leva, em um copo americano, caldo de cana, cachaça, limão e espuma de cerveja. "A brincadeira mexe com os sentidos: o visual anuncia chope e o gosto remonta à caipirinha."