Crise da água
Sabesp culpa forte calor e falhas técnicas por 'situação grave'
Presidente da companhia diz em CPI que aposta nas chuvas a partir do dia 20 para aliviar crise no Cantareira
Empresa afirma que a limitação de captação de água imposta por agência federal restringe sua operação
A presidente da Sabesp, Dilma Pena, admitiu nesta quarta-feira (15) uma piora no quadro de distribuição de água na capital paulista, consequência, segundo sua versão, do forte calor e de falhas técnicas da companhia.
A declaração foi dada em seu segundo depoimento na CPI que investiga a atuação da empresa na crise hídrica.
Dilma disse que o calor dos últimos dias fez crescer o consumo, reduzindo ainda mais a oferta em algumas regiões já afetadas pela diminuição de pressão que faz a água chegar até os consumidores.
Segundo a presidente da companhia, o problema foi agravado por falhas em pontos específicos do sistema.
Um deles, de acordo com ela, ocorreu em Americanópolis (zona sul), onde houve o rompimento de uma tubulação de grande porte, já reparada. "Quase 600 mil consumidores foram afetados."
Outra falha, disse Dilma, aconteceu na tubulação sob a avenida Brigadeiro Luís Antônio e quase colocou em risco o abastecimento de água no Hospital das Clínicas.
O sistema Cantareira operou nesta quarta-feira com apenas 4,3% de sua capacidade. No mesmo período no ano passado, o reservatório funcionava com 38,3%.
Para o futuro, a presidente da Sabesp aposta, mais uma vez, na volta das chuvas. "Nossa previsão é que comece a chover a partir do dia 20 deste mês", disse ela.
Baseada em projeções feitas por uma fundação da USP, Dilma afirmou que há menos de 0,1% de chance de o próximo verão ser tão seco quanto o último.
Pressionada por vereadores, ela negou que a estatal tenha sido pouco transparente em relação à gravidade da crise hídrica. Segundo ela, a comunicação com a população foi prejudicada pelas restrições de propaganda impostas pela lei eleitoral.
Os vereadores, especialmente os de oposição, criticaram muito a preparação da empresa para o período de estiagem.
Em nota enviada depois do depoimento, a empresa adicionou às razões dos problemas de abastecimento a limitação de captação "imposta pela ANA (Agência Nacional de Águas). Com isso, a Sabesp fica com possibilidades limitadas de operação".
O discurso da empresa é distinto do que vinha sendo adotado. Na terça (14), mesmo questionada pela Folha de que os casos de falta de água já atingiam ao menos 24 bairros em todas as regiões da capital, a Sabesp respondeu que os problemas ocorriam em "alguns pontos".
CALOR
Professor de gestão ambiental da USP, Pedro Luiz Côrtes diz que os problemas de desabastecimento devem ficar mais comuns com o calor. "Com restrição hídrica, a dificuldade vai aumentar."
Côrtes afirma que é fundamental que a Sabesp deixe claro à população que a crise deve ser longa, para que haja uma mudança no padrão de consumo. "É preciso tratar a água como um artigo de luxo", afirma.