Quadrilha teve acesso às questões do Enem antes da prova, diz polícia
Segundo investigação, criminosos passaram respostas a candidatos por meio de ponto eletrônico
No domingo (23), 11 suspeitos e 22 alunos foram presos por atuar no mesmo esquema em vestibular de medicina
O caderno de questões do Enem deste ano chegou às mãos de membros de uma quadrilha que fraudava o exame momentos antes do início do teste, ocorrido nos dias 8 e 9 deste mês, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, que apura o esquema.
A suspeita é que o material tenha sido repassado por um membro da organização da prova em Mato Grosso.
Além do Enem, o esquema foi reproduzido em vestibulares para medicina em São Paulo, Minas Gerais e nas cidades de Brasília e Fortaleza.
O núcleo da quadrilha foi preso em flagrante no último domingo (23), quando tentava fraudar um processo seletivo da Faculdade de Ciências Médicas em Belo Horizonte.
Na operação, 11 integrantes da quadrilha e 22 candidatos foram presos. Os alunos interessados no gabarito pagavam até R$ 200 mil pelas respostas, diz a polícia.
No caso do Enem, a quadrilha escolheu uma cidade mato-grossense para, a partir de lá, responder às questões do Enem com rapidez e espalhar os resultados a candidatos que usavam pontos eletrônicos em diversos Estados.
O esquema recorreu aos chamados "pilotos", pessoas com grande conhecimento das disciplinas. Ao receberem a prova, responderam às questões no menor tempo possível. O gabarito era, então, transmitido para os pontos eletrônicos dos candidatos que faziam a prova.
A estimativa é que entre 20 e 40 pessoas tenham sido beneficiadas no Enem de forma ilegal, segundo o delegado Jeferson Botelho Pereira, superintendente de investigação e polícia judiciária de Minas.
Os 22 alunos detidos no domingo pagaram fiança e foram soltos. Na terça (25), a polícia prendeu o 12º membro da quadrilha. Trata-se de um estagiário do Ministério Público, aluno de direito. Segundo o delegado, ele confessou que resolveu questões de história e geografia do Enem.
O grupo deverá responder pelos crimes de formação de quadrilha, organização criminosa, fraude em certame público e falsidade ideológica. Somente a condenação por organização criminosa, por exemplo, prevê prisão de até 12 anos, inafiançável.
Em nota, o Inep (órgão responsável pelo exame) disse que não foi informado pela polícia mineira sobre as investigações e afirmou que pediu dados à Polícia Federal, que também irá apurar o caso.
Segundo o órgão, quem usou de meio ilegal para realizar a prova será excluído.