Indonésia rejeita apelo de Dilma por brasileiro
'Eu tinha esperança; agora, só Deus', diz tia de condenado que será fuzilado
Governo ainda pediu que papa interceda para evitar primeira execução de um brasileiro no exterior
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, negou pedido de clemência da presidente Dilma Rousseff (PT) na manhã desta sexta-feira (16) para evitar a execução neste final de semana do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 53, condenado à pena de morte por tráfico de drogas.
O apelo, feito depois da espera de uma semana para que Dilma conseguisse ser atendida por telefone, era a última aposta da família para tentar reverter a decisão.
"Eu ainda tinha esperança de que a coisa pudesse mudar. Agora, só Deus", afirmou à Folha Maria de Lourdes Archer Pinto, 61, tia e parente mais próxima do brasileiro (os pais de Marco morreram e, solteiro, ele não tem filhos).
O brasileiro foi condenado em 2004, após tentar, um ano antes, entrar no país com 13,4 kg de cocaína escondidos em tubos de uma asa-delta.
Se confirmada, será a primeira vez que um brasileiro será executado no exterior. A morte se dá por fuzilamento.
Maria de Lourdes, que chegou a Jacarta às pressas, deve visitar seu sobrinho antes da execução, marcada para as primeiras horas de domingo (18), pelo fuso de Jacarta --que está nove horas adiantada em relação a Brasília. Levará doce de leite para ele.
"Quero que ele tenha certeza de que eu fiz tudo aquilo que pude e lutei para que não houvesse esse desfecho tão trágico", afirmou.
Ela disse que "faria um apelo de joelhos, implorando para reverter essa situação".
"Tenho um lado pragmático que mostra que a Indonésia tem uma Constituição. Mas no meu raciocínio o presidente poderia ter expulsado o Marco. O presidente não é Deus para tirar a vida de alguém. O Marco pode ter errado, cumpriu 11 anos preso e não merece pagar com a vida. Ele [Widodo] se acha um Deus", afirmou a tia dele.
PAPA
Diante da recusa do presidente da Indonésia, a gestão Dilma apresentou um dossiê à representação da Santa Sé no Brasil para pedir ao papa Francisco que interceda pelo cancelamento da execução.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, no entanto, já afirmou ser "improvável" que algo consiga evitar a morte de Marco, exceto "um milagre".
Além do brasileiro, outros cinco condenados (sendo quatro estrangeiros) devem ser executados no domingo.
Dilma conseguiu falar com Widodo por telefone por volta das 8h. Além de Moreira, ela pediu clemência ainda para Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, também condenado à morte por tráfico de drogas e cuja execução está programada para fevereiro deste ano.
Segundo nota do Planalto, a presidente ressaltou, durante a ligação, "ter consciência da gravidade dos crimes cometidos pelos brasileiros". Disse ainda "respeitar a soberania da Indonésia", mas que, "como chefe de Estado e como mãe, fazia esse apelo por razões humanitárias".
O presidente Widodo disse que não poderia mudar a sentença porque todos os trâmites jurídicos foram seguidos.
RELAÇÕES
A demora de mais de uma semana para que Widodo aceitasse falar com Dilma e a recusa da clemência jogam uma "sombra" nas relações entre os países, segundo avaliação do governo brasileiro.
O comércio do Brasil com a Indonésia representou só 0,1% da balança comercial brasileira no ano passado.
Mas, apesar de não fazer parte do rol de principais parceiros do Brasil, ambos têm um acordo de parceria estratégica firmado em 2008.
O Brasil exportou em 2014 para lá US$ 225,1 milhões e importou US$ 229,1 milhões, fechando a balança comercial com deficit. O Itamaraty diz que, desde 2006 a Vale explora e beneficia níquel na Indonésia, um dos maiores investimentos brasileiros na Ásia.