Defesa quer internar outro brasileiro para evitar execução na Indonésia
Rodrigo Gularte, 42, foi diagnosticado com esquizofrenia; lei veta a pena para doente mental
Prisioneiro, porém, se recusa a ser internado; prima dele irá visitá-lo nesta segunda para tentar convencê-lo
A defesa e os familiares de Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, tentam interná-lo às pressas em um hospital psiquiátrico para que o brasileiro não seja executado na Indonésia.
Neste domingo (18), o procurador-geral do país anunciou em Cilacap, a 400 km de Jacarta, que quer acelerar novas execuções. Rodrigo está na lista, em fuzilamento programado para fevereiro, mas ainda sem data definida.
O brasileiro foi condenado à morte por tráfico de drogas, assim como Marco Archer Cardoso Moreira, 53, fuzilado às 15h30 de sábado (17), no horário de Brasília.
Rodrigo foi diagnosticado com esquizofrenia, atestado por laudo psiquiátrico --feito a pedido da defesa dele por médico indonésio--, mas se recusa a ser internado, por acreditar que está são.
Uma prima dele chega nesta segunda-feira (19) a Cilacap, onde fica a prisão em que ele está, para convencê-lo a se internar rapidamente. Abalada, a mãe, Clarisse Gularte, 69, não quis viajar.
"Sob a lei indonésia, pessoas com doenças mentais não podem ser executadas", disse à Folha Utomo Karim, advogado pago pelo governo brasileiro para defender Rodrigo e Marco Archer.
Não se trata de uma simples tese. Karim ouviu de Tony Spontana, porta-voz da Procuradoria-Geral, que, se fosse apresentada comprovação de que Rodrigo está doente, a execução seria adiada.
A Procuradoria é o órgão responsável por levar adiante as execuções no país.
ANÁLISE
Spontana confirmou à Folha a informação dada ao advogado de Rodrigo. Mas informou que a Procuradoria tem de analisar os laudos antes antes de se decidir.
Pelas leis locais, o governo indonésio já pode executar Rodrigo, porque cumpriu todas as etapas para tal. A última delas foi o fato de o presidente Joko Widodo ter negado clemência ao brasileiro, no último dia 9.
Não há mais recursos possíveis na Justiça do país asiático. Recém-empossado, Widodo anunciou a disposição de executar traficantes.
Paranaense, de família de classe alta, Rodrigo foi preso em 2004, no aeroporto de Jacarta, ao tentar entrar no país, com 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Se Marco Archer nunca escondeu ter sido um traficante de drogas, Rodrigo era "mula" --recebia dinheiro para carregar entorpecentes.
Com ele estavam dois amigos, também detidos. Rodrigo disse à polícia que toda a droga era sua, e os amigos foram liberados, em episódio controverso sobre o qual jamais falou. Em 2005, o brasileiro foi condenado à morte.
Atualmente, ele está preso em Pasir Putih ("areia branca"), prisão classificada como de "super segurança máxima" e que fica na ilha de Nusakambangan --onde Marco também estava.
DEPRIMIDO
Ele e Marco mal se falavam. Diferentemente do comportamento quase alheio de Marco, Rodrigo se abalou com a prisão e a ameaça de ser fuzilado. Estava deprimido e chegou a tentar suicídio, ao colocar fogo no colchão de sua cela.
Também ao contrário de Marco, ele se recusa a falar com familiares e a receber visitas. Transtornado, ele já se recusou, inclusive, a ver mãe.