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Morre no Rio de Janeiro, aos 89 anos, a atriz Maria Della Costa
Artista gaúcha estava internada no hospital Samaritano e sofreu edema pulmonar agudo
Fundadora em SP do Teatro Popular de Arte, foi responsável pela primeira montagem de Brecht no Brasil
Morreu ontem, aos 89 anos, no Rio, a atriz de teatro Maria Della Costa. Ela estava internada no hospital Samaritano, em Botafogo (zona sul da cidade).
A causa da morte não foi divulgada pela unidade médica, mas, segundo pessoas próximas à atriz, ela sofreu edema pulmonar agudo.
A previsão é de que o velório seja realizado neste domingo, no Theatro Municipal, centro do Rio.
Nascida Gentile Maria Marchioro, no dia 1º de janeiro de 1926, em Flores da Cunha (RS), ela teve seu primeiro papel numa adaptação de "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo, levada aos palcos pela companhia de Bibi Ferreira em 1944.
Com uma carreira paralela como manequim, conheceu o jornalista Fernando de Barros, com quem se casou.
Em seguida, o casal mudou-se para Portugal, onde ela estudou teatro no Conservatório Dramático de Lisboa.
A volta aos palcos brasileiros aconteceu em 1946, com "A Rainha Morta".
Na peça, montada pelo grupo Os Comediantes, ela fazia o papel da protagonista e atuava sob direção do polonês Ziembinski (1908-1978), já renomado pela antológica montagem de "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, de 1943.
No elenco de "A Rainha Morta", ela conheceu Sandro Polloni, que se tornou seu segundo marido.
Ao seu lado, a atriz fundou o Teatro Popular de Arte (TPA) em 1948. Polloni passou dos palcos aos bastidores, tornando-se produtor do grupo. Montaram textos de Nelson Rodrigues, Plínio Marcos e Gianfrancesco Guarnieri, e de estrangeiros como Arthur Miller.
As apresentações, que quase sempre contavam com a atuação de Della Costa, eram dirigidas por nomes como o então novato Flávio Rangel e Gianni Ratto --que veio da Itália para montar "O Canto da Cotovia", de Anouilh.
TEATRO PRÓPRIO
A peça, com Della Costa no papel principal de Joana d'Arc, inaugurou a sede da companhia em 1954. Nascia aí o Teatro Maria Della Costa, na rua Paim (região central de São Paulo).
O casal se lançou à empreitada de construir a sala como "consequência natural da falta de teatros em São Paulo, como aliás em todo o Brasil", segundo declaração à imprensa na época.
"Foi ela que lançou a Fernanda Montenegro para o estrelato, em 1955, lhe cedendo o papel em 'A Moratória'", conta a historiadora e crítica de teatro Tânia Brandão.
Em 1958, o TPA fez a primeira montagem profissional de uma peça de Brecht no país, "A Alma Boa de Set-Suan".
Sob a direção do italiano Flaminio Bollin, teve sua única passagem pelo Teatro Brasileiro de Comédia em 1951, ao lado de Paulo Autran, em "Ralé", de Górki.
Em 1973, atuou na marcante montagem de Antunes Filho para "Bodas de Sangue".
"Fui uma escrava maravilhosa do teatro, dia e noite estudando, representando", disse à Folha em 2004.
Della Costa teve também papéis no cinema, em filmes como "O Cavalo 13" (1946) e "O Malandro e a Grã-fina" (1947), ambos de Luiz de Barros; "Inocência" (1949), de Fernando de Barros e Luiz de Barros, e em "Areião" (1952), de Camillo Mastrocinque.
Na TV, fez as novelas "Beto Rockfeller" (1968), "Estúpido Cupido" (1976) e "Te contei?" (1978).
Entre 1980 e 2014, ela viveu na fluminense Paraty, onde manteve até 2011 a pousada Coxixo.
Viúva de Polloni desde 1995, ela não deixa filhos.