Doença já atingiu 1 a cada 14 moradores de cidade em SP
Vírus domina conversas de rua em Trabiju, município de 1.650 habitantes
Sem hospital, pacientes vão para unidade de saúde; 'parecia que tinha levado uma surra', diz aposentado
Em uma rua da pequena Trabiju (a 308 km de SP), praticamente todas as casas têm algum morador que pegou dengue neste ano.
A doença e o medo que os 1.650 habitantes da cidade no interior do Estado sentem dos sintomas são os principais assuntos nas ruas.
Não é para menos: um em cada 14 moradores já contraiu dengue, oficialmente, na atual epidemia. O município, o quinto menor do Estado, teve 112 infectados.
"Fiquei 12 dias de cama, tomando soro. Parecia que tinha tomado uma surra, de tão mole que fiquei", afirmou o aposentado João Ferreira dos Santos, 66.
A prefeitura suspeita que o "marco zero" da doença seja uma incubadora de ovos que estava desativada até meados de dezembro.
"Encontramos muitos criadouros do mosquito lá. O que tinha de larvas conseguimos eliminar, mas mosquitos adultos já tinham voado", diz William Ademir Letice, diretor interino de Saúde.
Numa rua lateral à incubadora, a reportagem encontrou um pote de sorvete jogado numa esquina com água parada e larvas.
Com o aumento no número de casos, cresceu também o temor de que a doença cause mortes na cidade, que não tem hospital.
"Fiquei numa cama improvisada no centro de saúde. Não cabia mais ninguém lá", disse o motorista Antonio do Nascimento, 56.
No ano passado, a cidade registrou 34 casos. De 2009 a 2013, somados, foram só sete registros, de acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado.
Segundo o diretor interino de Saúde, o pico de transmissão ocorreu no fim de janeiro, mas equipes estão nas ruas para eliminar criadouros e fazer nebulizações e operações, inclusive à noite, para encontrar moradores em casa.
Apesar de a atual situação já ser considerada crítica, o número de casos pode ser ainda maior.
A professora Sandra Cristina Guideli, 41, aguarda resultado do exame. Para ela, no entanto, não há dúvidas. "Os sintomas foram os piores possíveis, com íngua e dores nas juntas", afirma.