Pressionado por sem-teto, Haddad acelera obra de moradias
Após protestos e série de invasões, prefeito iniciou segunda metade de seu mandato com 1/3 das 55 mil anunciadas em construção
Pressionado por movimentos sem-teto, o prefeito Fernando Haddad (PT) começou a segunda metade de seu mandato com um terço das 55 mil moradias anunciadas para 2016 em obras.
Do início da gestão até agora, outros 7,3% do previsto (4.017 unidades) foram entregues, entre elas moradias iniciadas em gestões passadas.
A distribuição de habitações está entre as prioridades não só pelo deficit de mais de 230 mil unidades, mas também porque o prefeito foi alvo constante dos movimentos.
A pressão, inclusive de movimentos petistas, se mostrou em protestos e numa série de invasões a terrenos e prédios.
Conforme mostrou a Folha no fim do ano passado, as ocupações quase triplicaram durante a gestão Haddad.
Para acalmar o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Haddad subiu num carro de som e anunciou que decretaria como área destinada a casas populares a Nova Palestina, invasão na zona sul. Condicionou a medida à aprovação do Plano Diretor --diretrizes da cidade para os próximos 16 anos.
No mesmo dia, a base aliada na Câmara fez alterações no plano, que ampliaram o total de áreas para moradia.
Para José Afonso da Silva, do MTST, o ritmo de entrega é lento. "Foram as ocupações que apressaram as compras de terreno. O prefeito tem condições de cumprir as metas, mas as coisas ainda estão na fase burocrática."
Diretor jurídico do MSTS e responsável pela ocupação do Cine Marrocos, Douglas Gomes acusa a gestão Haddad de dialogar só com movimentos mais próximos do PT.
"Deveria haver também diálogo com membros de uma ocupação com 700 famílias, como a nossa", diz.
Para a gestão, o número de habitações em andamento é satisfatório.
Segundo o secretário de Habitação, José Floriano de Azevedo Marques, o plano é iniciar as obras das unidades previstas até o meio deste ano. Isso porque o prazo para a construção é de 18 meses.
De acordo com ele, além das unidades em obra, a prefeitura já tem terrenos desapropriados para de 32 mil habitações. "Quero deixar pelo menos até 2016 umas 70 mil unidades em obras."
Outra meta na área, a reurbanização de favelas, patina. De uma previsão de abranger 70 mil famílias, apenas 1.717 (3%) já foram beneficiadas.
A gestão sustenta que gastou R$ 200 milhões em desapropriações desde o início do mandato. A verba vai para a compra de cerca de 100 áreas.
O secretário nega que haja falta de diálogo com movimentos sem-teto. "O prefeito é muito aberto e eu acho que não procede essa informação. A gente tem um bom diálogo com os movimentos sociais."
O ritmo lento na urbanização das favelas é um dos fatores que explicam a fila por moradia.
Mas Severino Geracino de Souza, 63, deixou de esperar. Conseguiu o próprio apartamento, na Freguesia do Ó (zona norte). "Agora, eu entro em casa e nem acredito que isso é meu", diz.