Entrevista Kathryn Bonella
Presídio é o lugar mais seguro para o tráfico de drogas na ilha
Autora de livros sobre o submundo de bali, jornalista australiana diz que escapar da prisão ou sobreviver dentro dela depende de dinheiro
Depois de trabalhar em jornais britânicos, como "Evening Standard" e "Daily Mail", e no programa de TV australiano "60 Minutes", a jornalista Kathryn Bonella se mudou para Bali e mergulhou no submundo da ilha.
Escreveu três livros: "Schapelle Corby "" Minha História", biografia da estudante australiana presa com quatro quilos de cocaína; "Hotel K", a Vida na Prisão de Kerobokan"; e "Snowing in Bali", um mosaico de loucas histórias dos traficantes da ilha, entre eles o brasileiro Marco Archer, fuzilado na Indonésia no dia 17 de janeiro.
De Sidney, onde vive, ela falou à Folha.
Folha - Como descreveria Bali para quem não a conhece?
Kathryn Bonella - Um paraíso de natureza exuberante, premiado pelo sol e pelas ondas perfeitas. Excelente comida. Mas.... Turistas bebem seus coquetéis sem a menor noção do que se passa ali.
Está falando da corrupção?
Em nove anos trabalhando dentro da prisão de Kerobokan, nunca ouvi uma única história em que não houvesse dinheiro no meio.
Um exemplo?
Um inglês saiu do julgamento com uma sentença de seis anos por porte de ecstasy. Quando seus papéis chegaram a Kerobokan, a pena era de três anos. O que aconteceu no caminho? R$ 110 mil. Há advogados especializados nesta negociação.
Como funciona a Laskar, a famosa máfia de Bali?
Ela detém o domínio do mercado de segurança privada. O homem de preto parado na porta dos melhores e mais caros resorts é membro da gangue. São fáceis de reconhecer: um laskar tem uma tatuagem na mão, entre o dedão e o indicador.
Quanto você tem que ter no bolso se for preso com drogas?
Não há tabela fixa. Ser preso em casa ou no hotel é mais barato do que ser pego no aeroporto. Na última década, os preços subiram. Agora, nada é menos de R$ 32 mil.
E tem que pagar rápido?
O mais rápido possível. Você pode pagar ao advogado para pagar ao jornalista para evitar que o seu caso vá parar na imprensa. Saiu no jornal, o preço sobe. Um editor do maior jornal de Bali me disse que não há nada de errado com isto. Para ele, é o jeito como o sistema funciona.
Qual foi a sua motivação para escrever os livros?
Fui a Bali cobrir a prisão da Schapelle Corby. Acabei me mudando para lá para escrever a biografia dela. Passei centenas de horas com Schapelle na prisão de Kerobokan. Vi um mundo de violência, sexo, corrupção e drogas. Foi natural partir para o segundo livro, "Hotel K".
Por que o título "Hotel K"?
Quem tem dinheiro vive como rei lá dentro: drogas, álcool e comida dos melhores restaurantes na cela.
O tráfico de drogas é intenso dentro do Hotel K?
Eu diria que é o lugar mais seguro de Bali para traficar drogas. Os guardas são parceiros e fazem num dia o salário do mês: R$ 625.
Ao mesmo tempo a lei mata traficantes.
Para condenados à morte, essa hipocrisia é devastadora. Um nigeriano que conheci em Kerobokan me disse que estava sendo consumido pelo ódio vendo os mesmos guardas que o prenderam negociando drogas na cadeia.