Após sonho hippie, ilha vive era do dinheiro, diz morador
O 'Bali Dream', expressão conhecida pelos frequentadores da ilha indonésia, começou nos anos 1960, com movimento de surfistas
Em 1971, o filme "Morning of the Earth", dos australianos Alby Falzon e David Elfick, inaugurou o "Bali Dream", o sonho de viver a vida sobre as ondas num paraíso perdido na Indonésia. Começava aí a história contemporânea de Bali.
O movimento hippie estava no auge, com hordas de jovens pegando a trilha do Oriente, a chamada rota Flower and Power. De lá para cá, Bali viveu várias ondas.
Nos anos 1980/1990, viveu a das raves e das drogas psicodélicas, moda que começou na Europa. Nos anos 2000, viu a chegada do dinheiro e a transformação da pacata ilha na Ibiza oriental.
O nova-iorquino Ronald Singer, 62, colunista de várias revistas locais, chegou à ilha em meados dos anos 1980, quando ninguém ainda tinha acordado do sonho. Segundo ele, em Bali, os "expats", de uma maneira ou de outra, são fugitivos.
"Nos anos 1970, muitos dos meus amigos estavam indo para a Índia ou vindo para Bali. Amor livre, seja livre, viva o hoje. Timothy Leary [neurocientista proponente do uso terapêutico do LSD] era o cara", diz Singer, sentado na sua casa num bairro afastado de Denpasar.
Até então, ele vivia no Greenwith Village, bairro alternativo de Nova York. "Era traficante de drogas. Conhecia todo mundo. Fiquei rico, com contatos e voando de jets privados. Até que a casa caiu e vim parar em Bali."
Segundo Singer, Bali era, de fato, uma ilha. "Tão livre que entrei com uma mala de dinheiro e ninguém checou. Havia um lugar para fazer compras, se você quisesse fazer uma ligação internacional tinha que ir ao aeroporto. A luz ia e vinha. O que as pessoas faziam? Encontravam-se na praia no fim de tarde e fumavam maconha."
A integração com o povo local demorou a acontecer. "Os balineses, pessoas mágicas, ficavam atrás das árvores, olhando. Ninguém perguntava de onde você era, o que fazia. No fim, você descobria que todo mundo estava aqui fugindo de alguma coisa, ou era traficante ou era um rebelde sem causa."
Para Singer, o "Bali Dream" agoniza: "Hoje você não conversa com um balinês sem ver um cifrão no olho dele. Não sei o que este presidente quer provar matando jovens. Bali está ferrada. Você nunca é realmente livre se mora aqui."