'Se for doença que mata, você morre mesmo'
Na periferia, a precariedade da assistência básica de saúde obriga moradores a percorrer diversas unidades para conseguir atendimento --não raro tendo que suportar sintomas incômodos de doenças durante horas.
A vendedora Amanda de Cânova, 25, diz que resolveu pedir carona para desconhecidos quando sua filha, de um ano, ardia em 39 graus de febre semanas atrás.
Ela não conseguiu ser atendida na AMA (unidade de assistência médica ambulatorial) Castro Alves, em Cidade Tiradentes (zona leste).
"Não tinha nem sequer uma ambulância para nos levar para um hospital", diz.
Seu outro filho tem a doença dos pés tortos congênitos. Desde que ele nasceu, há quatro anos, ela procura agendar uma cirurgia, sem sucesso. "Não consigo marcar nem uma ressonância."
A falta de médicos é sentida não apenas nas consultas pediátricas. A estudante Louisy Lombardi, 18, esperou seis meses por uma consulta ginecológica em 2014.
Como não havia urgência, diz, "tudo bem". Mas na última quarta (8), estava com suspeita de dengue e foi dispensada da AMA por falta de médicos. "A gente se sente impotente. Se for algo que mata, você morre mesmo."
O aposentado por invalidez Joabe Silva, 36, deparou-se com problema parecido quando seu filho, de um ano, teve conjuntivite e agravamento da bronquite.
Ele procurou três AMAs e dois hospitais --ficou das 15h às 24h na rua com a criança para ser atendido. "A sensação é de completo abandono", afirmou.