Escolas com alunos 'importados' ficam no topo do Enem
Em metade dos dez colégios líderes de ranking, maioria dos alunos fez 1º ou 2º ano do ensino médio em outras unidades
Indicador relativiza até que ponto escola vai bem por formar alunos ou por atraí-los na reta final do ensino médio
Das cem escolas com maiores notas no Enem 2014, em 15 a maioria dos alunos fez aulas do 1º ou 2º ano do ensino médio em outro colégio.
A tendência é ainda mais acentuada entre as dez primeiras do ranking. Em metade delas, predominam alunos "importados" na reta final –menos de 20% deles cursaram todos os anos do ensino médio na mesma unidade.
Essa análise é possível a partir de um novo dado divulgado pelo Inep (órgão do Ministério da Educação). Chamado de "indicador de permanência na escola", mostra a proporção de alunos que participaram do ensino médio completo em cada unidade.
A informação ajuda a relativizar até que ponto uma escola vai bem no Enem porque dá boa formação aos alunos ao longo dos anos ou porque atrai bons alunos, formados em outros colégios, na reta final do ensino médio.
A estratégia de colégios de formar unidades de elite, com alunos de alto desempenho, às vezes só nos anos finais, para despontar entre os melhores foi motivo de críticas ao ranking em anos anteriores.
Para educadores, esse mecanismo distorce a realidade, já que tais escolas não estão acessíveis para todos. As unidades, por outro lado, argumentam que formar turmas com esse perfil pode ter impacto positivo no ensino.
"Tem muita escola que tem cinco turmas no 1º ano e três no 3º ano. Há um processo de exclusão. São escolas tão pequenas que quase não têm vagas", pondera Chico Soares, presidente do Inep.
Do total de 15.640 escolas que tiveram as médias no Enem 2014 divulgadas neste ano, 3% têm alunos recém-chegados, onde menos de 20% cursaram todos os anos do ensino médio na mesma unidade. Entre as 10% melhores, esse percentual sobe para 5,4% –e segue crescendo conforme mais se aproxima do topo do ranking.
OLÍMPICOS
O colégio Objetivo Integrado aparece no topo do ranking com melhor pontuação em provas objetivas do Enem pelo sexto ano seguido.
"Os meninos que procuram nossa escola já são meninos olímpicos, que gostam de estudar", diz a diretora Maria Luiza Guimarães.
A escola tem um indicador de permanência entre 60% e 80% –ou seja, a maioria dos seus alunos permanece na unidade ao longo do ensino médio. Provas que simulam a do Enem são regulares.
Já a segunda no ranking, Farias Brito, do Ceará, tinha ao menos 80% dos alunos vindos de outras três unidades da instituição. O presidente do colégio, Tales de Sá Cavalcante, nega que a transferência seja estratégia para melhorar no ranking.
Ele afirma que a unidade tem grupos de estudos específicos para grandes vestibulares, como ITA, USP e Unicamp, e que isso atrai estudantes de outras unidades.
O Colégio Olimpo, de Goiânia, terceiro no ranking, atribui a baixa taxa de permanência escolar em 2014, inferior a 20%, ao fato de a escola ter aberto uma unidade de ensino integral.
"Com a criação do pedagógico voltado para os vestibulares, alunos que já estavam no Olimpo passaram para a nova unidade", afirma Rodrigo Bernardelli, diretor da escola goiana.
O colégio carioca Ponto de Ensino, sétimo no ranking e com baixa taxa de permanência, diz ser comum alunos entrarem no terceiro ano para ir melhor no vestibular. "A nossa escola é inclusiva e aceita alunos em qualquer ano", diz Marcio Cohen, diretor da escola.