Minha História Jorge Henrique Lopes Ferreira, 31
Drama que se repete
Dezoito anos após perder pai assassinado, técnico revive tragédia com o irmão morto no mesmo bairro da periferia de Osasco
RESUMO Com os olhos vermelhos de chorar, Jorge Henrique Lopes Ferreira, 31, técnico de celulares, passou a noite em claro para cuidar da liberação do corpo do irmão, Deivison Lopes Ferreira, 26, assassinado na quinta (13) na periferia de Osasco. Foi a segunda tragédia na família: há 18 anos, o pai dos dois foi assassinado no mesmo bairro. Jorge conta que seu irmão estava "todo feliz" com casa e emprego novos.
O patrão do meu irmão veio até a minha casa. Eu estava fechando a loja que tenho na garagem, de assistência técnica de celular. Ele me chamou de lado, porque minha mãe estava próxima, e disse: "Parece que balearam seu irmão".
A gente mora na periferia de Osasco [Grande São Paulo]. Corri até a casa do rapaz que trabalhava com o meu irmão –foi ele que ficou sabendo. Cheguei lá no lugar [do crime] e ele estava no chão, morto. Levaram até o celular dele. Tive que fazer um boletim de ocorrência por isso.
Ele nunca teve nada a ver com crime. Era pacato, de família. Estava no lugar errado na hora errada. O nome Deivison foi porque meu pai gostava das motos Harley-Davidson. A morte agora foi um choque pra gente. Até agora não caiu a ficha.
O Deivison era solteiro e sem filhos. Ficou a tarde inteira [antes de ser assassinado] trabalhando comigo na assistência técnica. Só saiu à noite para ir à casa de um amigo. Depois iria trabalhar.
Ele era ajudante geral em uma empresa e trabalhava à noite. Era um bico, sem nenhum registro. Fazia carga e descarga em caminhão.
Mas meu irmão tinha acabado de conseguir um emprego novo, com carteira assinada. O bico era muito puxado, trabalhava a noite toda. Ele iria começar no emprego novo na segunda-feira.
Estava todo feliz também porque se mudaria para uma nova casa, que fica nos fundos da nossa. Era um lugar todo bagunçado. Minha mãe limpou, ele trocou o piso, comprou armário.
[A morte do meu irmão] É viver o que foi vivido de novo. Eu tenho 31 anos. Quando eu tinha 13 anos, meu pai morreu assassinado no mesmo bairro de Osasco. Acho que foi uma rixa, mas ninguém nunca soube explicar direito. A gente vive num bairro difícil [Mutinga].
Quem fez isso não tem coração. Você pode imaginar como está a minha mãe. Você tem irmão? É doído. Infelizmente, a gente não pode se esconder. Tem que enfrentar. Passamos maus bocados.
A gente vive isso aí. Quem mora em periferia não pode mais sair, levar o filho no parque. Eu acredito que não dá para viver mais em São Paulo.
Infelizmente, nada vai ser resolvido se não afetar uma autoridade maior. Quando acontece alguma coisa com filho de governador, resolve. Mas sei que tem policiais bons e policiais bandidos.