Pirakumã Yawalapiti (1955-2015)
Pira, o embaixador do Xingu
Em seis décadas, o cacique Pirakumã Yawalapiti acumulou séculos de vivência. Nascido em uma aldeia isolada, viu a chegada dos irmãos Villas Bôas nos anos 1950, quando os índios do Xingu passaram a ter mais contato com o branco.
Pira, como era conhecido, acompanhou seus parentes no trabalho de convencer outras etnias a aceitar a ideia do Parque Nacional do Xingu, que reúne 15 povos no nordeste do Mato Grosso. Foi com os Villas Bôas que aprendeu a ler e a escrever –orgulhava-se de falar cinco idiomas do Xingu, incluindo o yawalapiti, língua da sua etnia.
Chefiou, nos anos 80, o posto Leonardo, principal porto de entrada do Xingu. Recepcionava antropólogos, artistas e outros apoiadores da causa indígena.
Na mesma época, vieram fazendeiros, madeireiros e engenheiros. Pira começou a atuar fora do parque para lidar com o desmatamento na nascente do rio Xingu, o corte ilegal de madeira e projetos hidrelétricos. Comparava o seu trabalho ao de um embaixador. Discursou no Congresso, viajava ao exterior e tinha página no Facebook.
No final de julho, encontrei com ele num evento em Rondônia. Os braços fortes, a lucidez e o passo firme exalavam vitalidade. Perguntei como imaginava o Xingu em dez anos: "Hoje, a juventude não pensa mais como a gente. Cada um vai querer pegar uma parte, explorar a madeira, o minério, essas coisas. Vai ter conflito entre eles."
Morreu no dia 21, aos 60 anos, após um ataque cardíaco durante a tradicional festa do Quarup. Deixa mulher, quatro filhos e netos.