Premiado, Alckmin atrasa entrega de caixas-d'água
Meta de distribuir 25 mil reservatórios até junho foi estendida para março de 2016
Famílias de baixa renda montaram estruturas para receber as caixas, mas até agora não foram atendidas pelo governo
Premiado pelo Congresso por sua gestão na crise hídrica, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tem atrasado a entrega de caixas-d'água às vítimas do racionamento.
Das 25 mil unidades que deveriam ter sido entregues até junho, só 15 mil chegaram às famílias de baixa renda.
Essa meta tem sido descumprida seguidas vezes. A nova promessa, agora, é completar as entregas somente em março do ano que vem.
Os equipamentos são essenciais para as milhares de famílias pobres que ficam de 13 a 20 horas por dia com as torneiras secas, estratégia para economizar água que já dura um ano e meio.
"É claro que faz diferença, sem isso, a gente fica sem água quase o dia inteiro", diz o gari José Carlos Marciano, 56, morador de comunidade pobre da zona norte de São Paulo que leva o nome de Vila Esperança da Caixa-d'Água.
Animado, em abril ele se cadastrou na associação de moradores para receber seu reservatório. Chegou a montar uma pequena laje de concreto e ferragens para recebê-lo.
"Disseram que as casas que não tivessem estrutura não receberiam. Então me preparei, mas, até agora, nada."
A principal justificativa para a demora é a concentração das entregas nos finais de semana. Nos dias úteis, segundo a Sabesp (estatal de água), as famílias não são encontradas em suas residências.
Vizinho de Marciano, o bancário Emerson de Souza, 24, chegou a construir uma pequena torre de ferro no meio da viela em que mora.
Em cima da torre, colocou uma chapa de ferro que serve como plataforma para a caixa-d'água que ainda não veio. Ele diz ter gasto R$ 1.500 para montar a estrutura.
Outra que não tem caixa-d'água é Edinalva Pinho, 51, moradora da Vila Palmeiras, na zona norte. Ela mostra o braço com queimaduras recentes, segundo ela, marcas de um acidente sofrido enquanto esquentava a água para o banho de caneca da neta.
Em outro extremo de São Paulo, no bairro de Itaquera, na zona leste, o pedreiro José Damião Teodósio, 50, ironiza o prêmio que o governador irá receber no mês que vem de uma comissão da Câmara.
"Quem merece prêmio somos nós que ficamos o dia inteiro sem água (...) Ele ganha prêmio, e a gente ganha o quê? Aumento [na conta de água]". Ele relata ficar sem água todos dias das 17h às 5h.
"A gente não tem água e a conta vem alta, vai entender", afirma.
São Paulo vive hoje a mais grave estiagem em 85 anos. Para controlar o pouco que resta de água nas represas, o governo paulista desde o ano passado tem racionado a entrega de água na Grande SP.
Quem mais sofre com a restrição são moradores de bairros altos e periféricos. Com a estratégia de reduzir a pressão nos canos para evitar desperdício, a água chega com dificuldade e em pouco volume nessas localidades.