Moradores dizem estar habituados a racionamento
Encher baldes e bacias é a rotina de quem ainda não recebeu caixa-d'água
Exceção, Angela de Oliveira recebeu a peça da Sabesp, mas ainda não fez a instalação por falta de dinheiro
A reportagem da Folha aborda um morador da zona norte: "Falta água na sua casa?". O morador responde: "Não". O repórter insiste: "Em nenhuma hora?". O morador então responde: "Todo dia eles [Sabesp] cortam a água. Mas isso já é normal, né? O problema é quando não vem água hora nenhuma".
A experiência se repete em diferentes endereços na zona leste, uma vez que milhares de paulistanos já se acostumaram com o racionamento (entrega controlada de água), que dura mais de um ano e meio.
Em todos os casos, porém, o sofrimento poderia ser amenizado por uma caixa-d'água.
Em Itaquera, Angela de Oliveira, 36, é uma das que receberam o recipiente da Sabesp, mas ainda não conseguiram instalá-lo em sua casa, sem laje e com telhas de amianto.
"Eu estava desempregada e só consegui dinheiro agora, depois de meses (...). Estou me virando com os baldes." Ela afirma que gastará R$ 200 para instalar a caixa.
Na zona norte, e também sem caixa-d'água, o ajudante geral Ricardo Alves de Brito acorda cedo para garantir a água da família.
Pela manhã, ele enche os baldes e bacias que ficam espalhados pela casa.
O ritual é repetido na casa ao lado, onde mora o gari José Carlos Marciano, 56. "Se não for por essa água, eu não tenho descarga, não cozinho, não lavo a louça e não tomo banho", conta.
Para Dalva Gomes, 29, o banho também é a parte mais crítica do racionamento diário de água na cidade.
"Meus dois filhos têm bronquite e, sempre que eu vou ao posto de saúde, o médico briga comigo. Diz que eu não posso dar banho de canequinha. Mas o que eu vou fazer se o horário em que tem água no chuveiro eles estão na escola?", questiona Dalva.