Painel do Eleitor
MARCELO COELHO
'Gosto da Dilma, mas tem de fiscalizar a Petrobras'
Eleitor de Barueri que votou em Geraldo Alckmin e José Serra fica com Dilma Rousseff para a Presidência
"Até parece que eu sou o candidato", brinca Antônio Francisco Pinto, 57, depois de posar várias vezes para Fabio Braga, fotógrafo da Folha. Estamos na garagem de sua casa, que ele vem construindo e reformando desde que comprou o terreno, no Jardim Audir, em Barueri (SP), há 30 anos.
Se dependesse de Antônio, o espaço para dois carros, dando para a rua, seria usado para abrir uma mercearia. "Nada de vender bebida em copo", esclarece. Mas, desde que o filho mais velho (de 33 anos) se separou, seus planos tiveram de ser adiados. Quatro netos, dois filhos e uma nora vivem no mesmo terreno, em casas separadas.
Desde os 18 anos, quando veio de Castelo do Piauí (cerca de 18 mil habitantes, a 175 km de Teresina) para São Paulo, Antônio trabalhou na construção civil. Como encarregado de carpintaria em empresas como Tecnisa, Cyrela ou Gafisa, chegou a ter 30 ou 40 profissionais sob seu comando.
Depois de anos de desgaste, preferiu demitir-se. É que os carpinteiros "andam muito rebeldes". O foco das pressões gira em torno das horas extras e no sistema utilizado pelas construtoras de acertar um prêmio coletivo a cada etapa concluída da construção.
As equipes sob seu comando "se organizavam como um sindicato", compara Antônio, que tinha de prestar contas ao mestre de obras a cada atraso em seu setor. Ele tentou procurar emprego como simples carpinteiro, sem chefiar ninguém. "Mas quando veem minha carteira de trabalho, insistem para que eu vire encarregado de novo."
Ele não se queixa da área de construção civil, que "sempre foi uma mãe para mim". Só teve uma experiência de perder o emprego, durante o Plano Collor.
"O pior é que votei nele", diz, lembrando-se de sua primeira eleição presidencial. Nas seguintes, votou duas vezes em Fernando Henrique Cardoso, para em seguida eleger Lula e Dilma Rousseff.
"Raiva mesmo só tive do Collor." Elogia Fernando Henrique Cardoso pelo Plano Real, mas critica as privatizações. Como acreditar, pergunta, que uma empresa como a Vale do Rio Doce dava prejuízo?
Com o governo Lula "tudo continuou bem", diz Antônio, "porque ele facilitou para os empresários construírem mais".
Há 25 anos sem visitar a família no Piauí, Antônio ouve relatos de que tudo melhorou por lá. Cita especialmente a chegada de luz elétrica em lugares "onde a única energia era a dos vaga-lumes". Não se trata só de iluminação: a eletricidade permite a instalação de bombas para tirar água de poços.
Quanto ao Bolsa Família, "ajudou muita gente". Mas "a desigualdade neste nosso país não é problema só do presidente", observa. Não adianta apenas mandar verba para o Nordeste, "porque o pessoal de lá é quem regula quem recebe e quem não recebe". Dá o exemplo da mulher de um vereador "que ganha o Bolsa Família".
Antônio continua. "O presidente pode liberar verba para saúde no Piauí, mas lá não tem nem médico." Com vários problemas de saúde, a mãe de Antônio veio se tratar em São Paulo, trazida de avião pela irmã dele. "Estava jogada num leito, sem receber nem soro".
Nas construtoras, Antônio tinha plano de saúde particular. Mas "tenho um posto de saúde aqui quase dentro de casa" e Barueri conta com um bom hospital municipal. Não vê razão para ir até São Paulo fazer consulta nos institutos do seu convênio.
Atrás dos muros sem pintura de sua casa, o carpinteiro se sente seguro. "Nunca teve assalto por aqui", conta, "e às vezes a gente até se esquece de trancar a porta de noite".
Um neto chega para jogar bola na garagem. Antônio pede que não atrapalhem a entrevista. "E está cheio de quadra aqui do lado." Um parque linear acompanha, com efeito, a avenida no sopé da colina onde o bairro popular se localiza.
As casas simples contrastam com a prosperidade do município: a moderníssima Arena Barueri, uma profusão de esculturas em áreas verdes e até o Velório Municipal, de arquitetura discreta e aerodinâmica, ilustram a alta arrecadação da cidade, que além de uma refinaria da Petrobras conta com condomínios de luxo.
A inflação, tema da campanha de Aécio, não chegou ao bolso de Antônio; "Só quando eu compro carne". Ele votou em Geraldo Alckmin e José Serra, mas fica com Dilma Rousseff para a Presidência.
O candidato do PSDB "está muito empolgado", diz ele, "mas quando a gente faz mudança, esquece um monte de coisa". "Gosto do trabalho da Dilma", resume, antes de fazer referência ao caso da Petrobras: "Mas ela tem de fiscalizar".