Jovem precisa de novos heróis, afirma autor
Fundador da Wise Up e dono do novo time de Kaká lança livro sobre empreendedorismo
Mesmo sendo dono de um time de futebol, o empresário Flávio Augusto da Silva, 42, diz que os jovens brasileiros precisam de ídolos que venham de fora dos gramados e dos grupos de pagode. Ele sugere empresários e neurocirurgiões.
Silva é conhecido por ter fundado a rede de escolas de inglês Wise Up, que ele vendeu por R$ 870 milhões em 2013, e pelo projeto Geração de Valor, que inclui um blog e canais em plataformas como o YouTube.
Nelas, o empresário divide seus pensamentos sobre empreendedorismo --nada muito técnico, mas, sim, comportamental. Seu projeto também deu nome a um livro lançado em novembro, que vendeu cerca de 25 mil exemplares até agora. Ele também comprou o time de futebol Orlando City, no qual Kaká vai jogar a partir de 2015.
Leia abaixo trechos da entrevista que ele concedeu à Folha em seu escritório em São Paulo.
Folha - Por que decidiu dividir sua experiência na internet e no livro?
Flávio Augusto da Silva - Em 2008, quando a Wise Up tinha 250 escolas, tive vontade de criar um projeto social que compartilhasse conhecimentos que acumulava em 20 anos de experiência. Queria ampliar minha atuação, que estava focada na empresa, para atingir também os jovens que ingressavam no mercado de trabalho. Tivemos uma audiência muito grande: 10 milhões de visualizações com 15 vídeos.
O que em sua mensagem chama tanto a atenção?
A legitimidade. Sou uma pessoa que vem da classe média baixa, da periferia do Rio de Janeiro. Estudei sempre em escolas públicas, sou uma pessoa que saiu do zero. Minha primeira empresa foi iniciada com o cheque especial, pagando 12% de juros ao mês. Construí uma história de sucesso.
Falta outros empresários fazerem o mesmo?
Acho que o Brasil precisa descobrir quem são seus heróis. Os referenciais de nossos jovens não precisam ser só jogadores de futebol ou artistas de pagode ou funk. Não que jogador de futebol não seja uma boa referência: sou dono de um clube de futebol que trouxe o Kaká, que é sem dúvida uma boa referência. Mas um neurocirurgião, um bombeiro e um empresário que saiu do zero também são.
No livro, você se mostra mais preocupado em falar dos medos e comportamentos dos empreendedores do que de estratégia. Por quê?
Isso tudo, plano de negócios, parte técnica, é commodity. Você encontra no Google, não precisa de um empresário para explicar. Isso você faz um curso universitário com professor que nunca empreendeu na vida e ele vai ensinar-lhe. Acho que, de modo geral, mais pessoas vão empreender se elas forem encorajadas a isso. O que impede muitas pessoas de empreender é o medo.
A falta de entendimento sobre o medo faz com que as pessoas pautem sua vida em busca de segurança. Isso explica muito o fato de hoje 20 milhões de brasileiros sonharem em ser funcionários públicos. Esse desejo ser tão grande faz pensar que, se Steve Jobs ou Bill Gates fossem brasileiros, eles seriam funcionários públicos.
Se um jovem quisesse, como você fez, iniciar uma empresa com R$ 20 mil do cheque especial, o que diria?
Eu não aconselharia ninguém a fazer o que fiz. Tecnicamente é desaconselhável. Mas é por isso que empreendedorismo não é uma coisa técnica. Naquele momento, era um projeto sobre o qual tinha muita segurança. Era um dinheiro caro, mas era o passaporte que precisava para iniciar o meu projeto. Se o empreendedor tivesse todos os elementos que tinha na época, diria: "Faça".
O que motivou a compra do clube de futebol Orlando City?
Eu comprei puramente por negócios. Gosto de futebol, mas não tenho nenhuma paixão. Sou torcedor, gosto do Flamengo, mas paixão é paixão, e negócio é negócio.
Vi que nos Estados Unidos havia um fenômeno do futebol que o mundo ainda não tinha percebido. Acredito que em cinco, oito anos, vamos vender esse clube por US$ 1 bilhão.