Debate
Aproximar universidade e indústria incentiva inovação
Brasil precisa investir na retenção de jovens talentos para dar salto, avaliam especialistas
A presença de empresas cada vez mais interconectadas, eficientes e produtivas no Brasil passa, necessariamente, pela educação e pela retenção de jovens talentos no país. Essa é uma das conclusões do Fórum Digitalização: Soluções para um Brasil mais Competitivo, promovido pela Folha na segunda-feira (28), no teatro Tucarena (zona oeste de São Paulo).
Os debatedores foram unânimes em dizer que é preciso evitar que os jovens talentos brasileiros busquem oportunidades no exterior, deixando de contribuir para o avanço da inovação no Brasil. "Temos de criar uma sociedade sábia; somos exportadores de talentos e não vamos crescer sem eles", afirmou Ozires Silva, presidente do Conselho de Administração da Anima Educação e reitor do Centro Universitário Unimonte, que participou da primeira mesa do dia, que discutiu os ganhos de produtividade na indústria do futuro.
"O Brasil não teve participação no processo de digitalização no mundo. Temos de aumentar a competência nacional por meio da educação", acrescentou Ozires. Para Rodrigo Rocha Loures, presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a conectividade é a indústria mais relevante e estratégica da atualidade, pois permeia todas as demais e deve ser tratada com prioridade.
"O Brasil não teve sucesso nas políticas públicas adotadas até agora e tem um desempenho fraquíssimo em inovação em geral. Devemos desenvolver competência nesta área, porque potencial nós temos", disse Loures, que também participou da primeira mesa de debates.
Sergio Vezza, diretor de Tecnologia da Informação da Ambev, ressaltou que o país tem oportunidades não pela infraestrutura nem pelos investimentos, mas pela capacidade do jovem brasileiro de executar".
"Tem de haver um sistema que possa apoiar as start-ups e o instrumento é a educação", frisou Ozires Silva.
Da mesma maneira, na avaliação dos especialistas, deve haver uma integração mais efetiva entre as universidades e as indústrias. O tema seguiu na segunda mesa de debates, sobre inovação e os impactos no modelo de negócios. Para Rosana Jamal Fernandes, presidente da Unicamp Ventures, é necessário preencher a lacuna entre a universidade e o que a indústria precisa. "Precisamos aproximar a educação do que acontece no dia a dia da indústria", defendeu.
"Deve haver mecanismos para aproximar os jovens talentos das empresas e do mercado de trabalho", afirmou Maria Luisa Campos Machado Leal, diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
Na avaliação de Luís Mamede, gerente de Sistemas de Performance para a América do Sul no The Linde Group, é preciso que as empresas deem liberdade para que as pessoas possam criar projetos na área de inovação, de forma a reter e atrair talentos. "Normalmente a inovação vem de fora, da matriz", explicou.
Renato Buselli, vice-presidente sênior da divisão Digital Factory da Siemens Brasil, destacou que "a fuga de recursos humanos é catastrófica para o país e vai ser difícil repatriá-los."
ESTADO
Outro ponto debatido foi a participação do Estado no desenvolvimento da competitividade. "No Brasil, acha-se que a iniciativa deve vir do governo, mas é preciso uma mudança de mentalidade. Nós (a sociedade) temos de ser os protagonistas para ter inovação", afirmou Rodrigo Loures, da Fiesp. "É o mercado que pauta os investimentos, o desenvolvimento, não o governo, que tem de ser parte do processo, e não líder dele."
De acordo com Loures, uma legislação voltada para o empreendedorismo deve se sobrepor a qualquer outra legislação. "O que acontece no Brasil é o inverso, há muita dificuldade, se correm muitos riscos e há insegurança jurídica."
Um dos papéis do governo seria criar um ambiente de negócios mais favorável. "O Estado tem de focar na infraestrutura, não na regulamentação", comentou Buselli, da Siemens. "Precisamos também de regras mais estáveis."
"Temos de resolver questões macroeconômicas e identificar onde a regulação está 'pegando', para saber como a indústria pode dar um salto", analisou Maria Luisa, da ABDI. Ela lembrou que o Brasil ainda precisa avançar na automação, em um momento em que se discute a indústria 4.0. "O país não consolidou a segunda fase (da Revolução Industrial), então esse salto é mais difícil."