Consumo e sociedade
Com big data, empresas e governos 'preveem' futuro
Brasil começa a usar análise de dados digitais para melhorar eficiência
Imagine que uma prefeitura possa antecipar o risco de desabamento de uma área com dias de antecedência. Ou uma empresa consiga aumentar a previsão de demanda de um determinado produto com base em dados estatísticos, elevando sua participação no mercado.
Essas são situações possíveis com uma ferramenta que vem aumentando sua presença no mundo dos negócios e também na esfera governamental: o big data.
Empresas de tecnologia desenvolveram sistemas capazes de capturar e analisar o volume cada vez maior de dados disponíveis na internet, a partir da navegação e postagens dos usuários em sites, blogs e redes sociais –os chamados dados não estruturados.
Criou-se, dessa forma, uma ferramenta importante para definir os próximos passos de uma companhia, em diversas frentes: em relação a seus clientes, seus funcionários e a seu próprio funcionamento, ao reduzir custos e riscos e melhorar processos.
"Antes do advento do big data, os executivos tomavam decisões principalmente com base em seus sentimentos; agora, essas decisões passam a ser baseadas em dados", diz Celso Poderoso, coordenador dos cursos de MBA da faculdade de tecnologia Fiap.
EMPRESAS
No Brasil, as empresas ainda estão começando a usar a ferramenta. Segundo um estudo da consultoria Frost & Sullivan, apenas 10% de 313 empresas entrevistadas usavam o big data em fevereiro deste ano. Ao final de 2015, no entanto, a proporção deve chegar a 34%, diz a F&S.
Entre as empresas que já fazem uso dos dados para melhorar processos está a companhia áerea TAM, que utiliza as informações para programar a manutenção de seus aviões desde 2013.
Com o big data, a TAM consegue planejar, com antecedência de 18 meses, a mão de obra e o material necessários para os serviços de manutenção, evitando desperdícios.
"Esse planejamento com big data tem um índice de precisão de 98%, e o aumento da produtividade é de 11%, afirma Mauricio Pascalichio, gerente do Centro de Controle de Manutenção da aérea.
Nas operadoras Oi e Telefônica Vivo, os dados ajudam a melhorar o relacionamento com os clientes.
"Antes mesmo de o cliente ser atendido no call center, avaliamos seu perfil e o que está acontecendo com ele. Assim, buscamos entre os nossos 40 mil atendentes o melhor para resolver o problema", diz João Pedro Cavalcanti Sant'Anna, diretor de Planejamento e Estruturação de Relacionamento da Oi.
De acordo com Luiz Medici, diretor de Inteligência do Negócio & Big Data da Telefônica Vivo, a companhia aproveita as informações para ajudar os serviços e produtos às necessidades dos clientes, além de fazer melhorias no atendimento.
"Foi possível, por exemplo, mapear as antenas com maior demanda para melhorar a qualidade do sinal de voz e dados. Conseguimos redirecionar cerca de um terço de nossos investimentos em redes com base na 'matéria prima' fornecida pelo big data."
Para processar os dados e aplicar inteligência de negócio sobre eles, o Itaú Unibanco investiu R$ 3,3 bilhões em um novo centro tecnológico, localizado em Mogi Mirim (SP), inaugurado em março.
Mas não são só as empresas que dispõem de grandes servidores de armazenamento que podem se beneficiar do big data. De acordo com Sergio Fortuna, líder de Big Data- Analytics da IBM, o desenvolvimento da computação em nuvem tornou a ferramenta acessível a companhias de todos os tamanhos.
E os programas de análises de dados, diz, estão cada vez mais simples. "Essas ferramentas de análises preditivas dependem mais do conhecimento das pessoas de negócios da própria empresa."
GOVERNOS
O big data tem também potencial enorme de uso para os governos, diz Fortuna. Já há cidades que utilizam as informações para prever eventos climáticos, melhorar o gerenciamento do tráfego e a administração de serviços públicos, como ações de prevenção de doenças.
Para Poderoso, da Fiap, o futuro caminha para que o próprio software defina as decisões a serem tomadas. "É a chamada inteligência artificial, em que a máquina errará menos que os seres humanos."
O uso dos dados pode, no entanto, gerar preocupação dos usuários com a questão da privacidade. Mario Laffitte, vice-presidente de Marketing e Assuntos Institucionais da Samsung, lembra que cabe ao indivíduo decidir se vai abrir as informações. "O consumidor tem de prestar atenção a isso."
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R$ 3,3 bi
É o valor que o Itaú Unibanco investiu em um novo centro tecnológico, localizado em Mogi Mirim (interior de SP)