Fábio Seixas
Um certo vírus
Notícias divulgadas no mesmo dia provocam reflexão sobre desejo de acelerar um carro
Está na página 3 do caderno Esporte desta Folha da última terça-feira. No alto, uma nota sobre a volta de Piquet às pistas, pela Porsche Cup. Exatamente abaixo, a notícia de que Mick, 15, filho de Schumacher, fará a transição do kart para os fórmulas.
Não deu para não embarcar numa viagem no tempo. Não deu para não mergulhar em outra viagem: uma reflexão sobre o tal "vírus da velocidade", o fascínio que o automobilismo exerce.
Em 91, aos 39 anos, tricampeão mundial, Piquet viu chegar à Benetton um jovem alemão cujo talento em apenas uma corrida, pela Jordan, chamara a atenção de toda a F-1.
Aos 22, Schumacher logo se tornou o garoto prodígio da categoria. Tomou conta da equipe. E empurrou o veterano para fora.
É da vida.
Piquet, porém, resistiu em parar. Aventurou-se na Indy. E sofreu, em 92, o pior acidente de sua carreira. Esfacelou os pés, quebrou as pernas. Parou? Não. Voltou em 93 a Indianápolis, como para pagar uma dívida consigo mesmo. Depois disso, correu três vezes em Le Mans, além de provas eventuais em outras categorias.
Estava sossegado nos últimos tempos, é fato. Mas resolveu acompanhar o filho Pedro num teste da Porsche em Curitiba, em setembro, e aceitou dar umas voltas na pista. Pronto. O vírus se manifestou.
Não vai ser nada muito sério. Aos 62, Piquet nem sequer decidiu se fará o campeonato completo. Quer mais é se divertir, tem todo o direito.
É da vida.
Mas quis o destino que, no mesmo dia desta notícia ter vindo à tona, Mick fosse anunciado como novo piloto da F-4 alemã.
Entrevado na UTI montada em sua casa, Schumacher talvez nem saiba da novidade --as informações sobre seu estado de saúde seguem escassas.
Mick correrá na equipe que catapultou outro filho de piloto, Max Verstappen, para a F-1.
F-1 que já teve Nelsinho. E que é também o sonho de Pedro.
Por que tanta resistência em parar? Por que tanta vontade de seguir a carreira do pai?
Acredito que tem a ver com a adrenalina da velocidade, com o gosto pela precisão, com o espírito competitivo, com o frisson do paddock, com a rotina de viajar pelo mundo. Ou talvez sejam todos malucos mesmo.
Talvez só quem corre ou correu possa dizer.
TESTES
A Mercedes está anos-luz à frente da concorrência. Williams e Ferrari estão no segundo degrau, seguidas de perto pela Red Bull. E a McLaren está perdidinha.
Já não há tempo para mais nada. Assim começará o campeonato, na Austrália, daqui a duas semanas.
Alonso? A boataria está forte. Mas só ele e a McLaren podem esclarecer o que houve naquele acidente.